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A polarização das queimadas

No Brasil, tudo é motivo para uma discussão política e polarizada. Já passamos por isso em temas como vacinação, enchentes no sul e até o conflito entre Israel e Hamas. A bola da vez é a onda de queimadas que assola o país, devastando milhares de hectares no interior brasileiro. Somente em São Paulo, o prejuízo estimado com o fogo é de R$ 1 bilhão.

O levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais é impressionante. Sem contar o último final de semana, o Brasil registrou mais de 100.000 focos de queimadas em 2024 (até 23 de agosto). Este é um número recorde quando comparamos com o mesmo período nos últimos 14 anos. Apenas em 2010 houve um conjunto maior de queimadas, com 114.265 registros.

O recorde de incêndios foi utilizado pela direita para fustigar o governo. Afinal, durante a campanha de 2022, o PT acusou o governo de Jair Bolsonaro de ser negligente com o combate às queimadas – e com o meio ambiente de maneira geral.

Em sua defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou as condições climáticas e ações criminosas. De fato, a seca em 2024 foi muito forte e as autoridades prenderam três suspeitos de terem iniciado incêndios.

Mas o governo tem a sua parcela de culpa nesta tragédia. Afinal, as verbas destinadas para fiscalização ambiental, prevenção e combate a incêndios diminuiu cerca de 26% neste ano, recuando de R$ 144,1 milhões para R$ 106,7 milhões.

No meio dessa situação, influenciadores e políticos de direita lembraram do vídeo de 2019, no qual vários artistas famosos se uniram para criticar a devastação do bioma amazônico durante o governo Bolsonaro. E que, em meio a uma queimada recorde, estão calados. Eduardo Ribeiro, presidente do partido Novo, foi uma dessas vozes críticas. “Não há hipocrisia maior do que o silêncio dos ungidos diante das queimadas na Amazônia”, escreveu Ribeiro nas redes sociais. “O céu do Brasil está cinza, e onde estão nossos artistas, jornalistas, influenciadores e pseudo-celebridades cantando musiquinha e pedindo o impeachment da [ministra do Meio Ambiente] Marina Silva?”.

As áreas queimadas somam mais de 113.000 quilômetros quadrados no primeiro semestre, um número nunca registrado nos últimos 17 anos. Ora, com uma seca tão severa – como de fato houve –, por que o governo não intensificou medidas de prevenção ou turbinou medidas de contenção?

Dado o tamanho da crise, não é possível colocar toda a culpa na conta dos criminosos que iniciaram queimadas. Trata-se de um fenômeno tão gigantesco que pressupõe a ação implacável da natureza. Na última terça, 21 de agosto, em Mato Grosso, houve 459 focos, contra 1.543 na quarta. Em São Paulo, houve um salto entre quinta e sexta (24): de 430 para 1.886 pontos. Apesar do crescimento vertiginoso, a seca não veio de supetão. A estiagem vem crescendo desde o início do ano e, com isso, houve tempo para que o governo se mexesse (ou fizesse mais do que eventualmente fez).

Em relação ao meio ambiente, não adianta apenas falar e ter um discurso alinhado com os ecologistas. É preciso agir e prevenir. Já tivemos este ano um desastre gigantesco no Sul do país, que poderia ter sido mitigado por autoridades federais, estaduais e municipais. No episódio dos incêndios, houve outra catástrofe. Neste caso, com uma boa dose de responsabilidade da esquerda. Dentro desse contexto, a narrativa até pode ser polarizada. Mas é possível enxergar nos fatos uma realidade cruel: a incompetência de um governante não depende de sua ideologia.  

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