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“Adolescência” mostra um temor capital dos pais

Uma série da Netflix, chamada “Adolescência” tem gerado inúmeros comentários das redes sociais e já é uma das líderes de audiência do canal de streaming. O seriado tem como trama um garoto de treze anos que é acusado de matar uma colega da escola com múltiplas facadas.

O ritmo dos quatro capítulos é relativamente lento para os padrões atuais e o estilo de filmagem é ousado – as cenas são captadas como se fossem gravadas em um único take. Um dos produtores executivos é nada menos que Brad Pitt, apesar e ser uma realização inglesa e o ator principal, Stephen Graham (que faz o pai do menino), tem um forte sotaque de Liverpool (os fãs dos Beatles vão perceber).

A atuação de todos é impecável, especialmente a de Owen Cooper, que faz o acusado. O rapaz oscila com segurança entre a timidez contida e a explosão emocional. Não é à toa que estará em “O Morro dos Ventos Uivantes”, com Margot Robbie, previsto para estrear no ano que vem.

A trama incomoda. E vai mostrando um mundo que deveria ser inocente – o da escola do ensino médio –, mas é cruel, violento e torturante. Trata-se de um exemplo perfeito do que seria um ambiente tóxico, só que seus personagens são garotos e garotas que mal saíram da infância. Neste processo, percebe-se que ninguém está preparado para a chegada da puberdade. A pureza das crianças é perdida de uma hora para outra quando algumas maldades adolescentes tomam conta de uma vida que era simples e relativamente tranquila, passando a ser um terreno inóspito e perigoso.

No enredo, o nível de hostilidade é enorme e provoca um bullying tão pesado que os alunos não respeitam nem a presença de um inspetor da polícia em sua classe. Ele vai fazer um comunicado aos alunos e o professor diz que um dos colegas é filho do policial. O garoto, então, passa a ser ofendido e provocado mesmo na presença do pai.

Pais e filhos parecem pertencer a universos diferentes, cada um falando um idioma próprio e sem pontes de comunicação. As relações familiares parecem seguir o ritmo de uma montanha russa de emoções, com mágoas que são varridas para debaixo do tapete, mas acabam surgindo na superfície quando se menos espera.

A cena final carrega a medida certa de drama e emoção e nos faz refletir sobre nosso papel como pais e mães. O que precisamos fazer para proteger nossos filhos de um mal que existe fora de casa? O que temos de fazer para que eles saibam se defender sem nossa presença? E o que necessitamos para evitar que eles entrem pelo caminho errado? Afinal, se muitos estão agindo assim, qual seria o problema de agir como a maioria, certo?

Quando confrontado com essas perguntas, sempre me saio com uma frase de São Agostinho, que dizia: “O certo é certo mesmo que ninguém o faça; o errado é errado mesmo que todos o façam”.

Mas isso não nos livra de um temor capital: como não falhar na educação que damos aos filhos? Muitos pais olham para seus rebentos e pensam que poderiam ter feito alguma coisa diferente no processo de educação.

Lembremos: não somos seres perfeitos e não trazemos conosco um manual de paternidade. Precisamos aprender esse ofício conforme os filhos vão crescendo – e temos de reaprender como agir em relação às crianças quando elas chegam à adolescência.

Nesta fase, tudo o que aprendemos precisa ser esquecido. Até porque filhos e filhas vão transformando suas personalidades de acordo com o passar dos anos e nos obrigam a mudar inexoravelmente quando ultrapassam a barreira dos treze anos de idade. A paciência precisa ser esticada, mas não muito – pois precisamos preparar a molecada para sua capacidade de defesa. Trata-se de um papel que vamos aprendendo a fazê-lo durante o tempo em que exercemos um personagem dificílimo: o de pai.

Recomendo fortemente “Adolescência”. Incomoda muito. Mas vale a pena.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Importante reflexão, Aluizio. Abre um portal para um olhar ativo sobre o que hoje influencia o descaminho de tantos adolescentes no mundo. O relaxamento dos controles sobre ambientes que estimulam práticas violentas em diferentes redes sociais e plataformas digitais tem imensa responsabilidade sobre esse cenário. Não deixe de ver o documentário “The Rise and Fall of Terrorgram”, da Frontline: https://www.propublica.org/article/rise-and-fall-terrorgram-inside-global-online-hate-network-frontline-telegram

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