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Alguém com interesses políticos pode reconstruir o RS?

Paulo Pimenta é jornalista e técnico agrícola. Sua formação profissional, em tese, não o qualifica para ser o coordenador dos esforços do governo federal para reconstruir o Rio Grande do Sul após a tragédia climática que se abateu sobre a região. Mas Pimenta (que tem um apelido jocoso entre os inimigos baseado em se sobrenome) possui um detalhe interessante em sua biografia: ele é nascido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Deputado federal gaúcho com quatro mandatos seguidos, Pimenta tem um interesse muito claro: se viabilizar como candidato à sucessão de Eduardo Leite. É por esta razão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o nomeou como titular da Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.

Será correto nomear alguém com interesses políticos tão explícitos para ocupar essa vaga?

Vamos voltar um pouco no tempo? O ano era 2001 e as perspectivas de uma crise energética eram enormes a partir de junho. Diante dessa possibilidade tão concreta, o presidente Fernando Henrique Cardoso nomeou o engenheiro eletricista Pedro Parente como “ministro extraordinário do apagão”. Parente, um técnico respeitado dentro e fora das estruturas governamentais, foi deslocado do ministério mais importante da Esplanada (Casa Civil) para a nova função.

Parente não havia ocupado nenhum cargo pelo voto e, depois dessa tarefa, também não se candidatou a nada. Além disso, tinha qualificação técnica para o cargo e sua escolha foi aplaudida pelo setor elétrico.

Pimenta, ao contrário do que aconteceu com Parente, não tem sido poupado de críticas na imprensa e nas redes sociais. Sua nomeação, inclusive, gera uma saia justa adicional dentro de um cenário delicado. É que ele terá de conviver com o governador Eduardo Leite, que comanda regionalmente os esforços para reerguer seu estado.

O problema é que o panorama de devastação se transformou no pano de fundo perfeito para narrativas de cunho político – ou de preparação para eventuais bandeiras. O próprio Eduardo Leite está divulgando todos os seus passos pelas mídias digitais, mas não é o único. Os filhos do ex-presidente, Carlos e Eduardo, também fizeram stories e vídeos, sempre acompanhados de Fabio Wajngarten, ex-titular da SECOM no governo anterior.

Na prática, todos disputam um mesmo espaço midiático, enquanto poderiam investir mais tempo para executar outras ações de reconstrução.

Há um ponto que preocupa nisso tudo: quando os políticos se envolvem em um projeto deste calibre, geralmente estão atrás de popularidade. O problema é que fazer a coisa certa nem sempre é escolher uma ação daquelas que vão trazer votos.

Se o rabo ficar balançando o cachorro, com medidas populares ganhando das realmente eficazes, teremos desafios enormes pela frente. Tomemos apenas um exemplo para ilustrar essa situação: há cidades que deverão ser movidas, dada a proximidade do rio e a probabilidade de novas enchentes caso as propriedades destruídas sejam refeitas nos mesmos locais. Muitos moradores não querem mudar suas casas de local. O que esses políticos, de situação ou de oposição, vão fazer?

Esperemos que seja a coisa certa. Sempre.

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