Artacho Jurado é autor de vários ícones arquitetônicos em São Paulo. O edifício Viadutos (imagem), que fica ao lado da Câmara Municipal e pode ser visto da esquina da rua da Consolação com a Avenida São Luís, é um deles. O prédio que parece um livro aberto na Avenida Paulista? Batizado de Saint Honorè, ele fica entre a rua Pamplona e a alameda Campinas e é outro. O edifício Parque das Hortênsias, na Avenida Angélica? Idem. Por fim, temos o Condomínio Planalto, que abriga quase 300 apartamentos, na Rua Dona Maria Paula, que chama atenção por seu tamanho e pelo uso de cores, algo que não era comum na década de 1950.
Além desses, há várias obras de Jurado espalhadas por São Paulo – como, por exemplo, o Louvre, na Avenida São Luís. Mas, acredite se quiser, ele não era arquiteto de formação. Aliás, não tinha diploma algum. Mas, como dono de uma construtora, fez projetos revolucionários e sintonizados com a vida urbana que os paulistas começaram a experimentar setenta anos atrás.
Um prédio erguido por Artacho tem geralmente pés direitos muito altos, colunas simples e imponentes, grandes áreas comuns no térreo e pastilhas, muitas pastilhas. O uso da cor, inclusive, fez com que sua obra fosse muito questionada até os anos 1960 e classificada como kitsch.
Gosto não se discute – e muitos podem achar a mesma coisa até os dias de hoje. Mas, ao contrário do que se possa imaginar, não são projetos datados e seu design sobrevive até os dias de hoje, quando fomos dominados por torres espelhadas e sem curvas.
Artacho foi o primeiro a pensar no lazer dos moradores de um prédio. E foi dele a ideia de colocar uma piscina para que fosse usada por condôminos de uma mesma propriedade – em uma construção de 1958, o edifício Bretagne, em Higienópolis (a inauguração deste empreendimento foi tão badalada que contou com a presença do ator e cantor americano Roy Rogers).
Seus prédios também sempre tiveram várias opções de tamanhos e preços, indo de 49 metros quadrados a 200 metros quadrados – incluindo unidades no térreo, incorporadas aos jardins internos.
Outra característica marcante deste gênio arquitetônico é o utilizar o espaço que seria destinado à cobertura para fazer um terraço de uso comum. Em alguns casos, inclusive, a piscina do condomínio foi colocada no último andar (caso do Louvre, da São Luís, que pode ser vista do mirante do Terraço Itália).
O sucesso comercial trouxe inveja e críticas.
Foi acusado de ser cafona por usar pastilhas coloridas em suas fachadas e misturar materiais no acabamento de seus prédios. O uso de cores, tão comum em seus projetos, se contrapunha ao estilo sóbrio do modernismo da década de 1950. O resultado dessas ousadias? Uma perseguição através de artigos em jornais e revistas.
Como se pode ver, o sucesso incomoda há muito tempo no Brasil. Mas, hoje, Artacho Jurado é um nome reconhecido e sua obra é admirada há sete décadas. Alguém se lembra do nome de seus detratores?
Pois é. O talento sobrevive ao tempo. A inveja, por sua vez, é esquecida e enterrada.