Um levantamento feito pela Netflix mostra que pelo menos 73% de seus assinantes assistem no mínimo um documentário no prazo de um ano. E, de fato, esse é um dos gêneros que mais crescem nesta e em outras plataformas de streaming. Mas uma categoria em especial cresce mais que as outras neste segmento: o documentário de celebridades.
Veja o caso da série produzida sobre a disputa judicial entre o ex-casal de atores Johnny Depp e Amber Heard. Foi a mais vista na plataforma no mês de agosto. Agora, em outubro, outro documentário é forte candidato a ganhar esse título – o dedicado à vida do ex-jogador David Beckham. Outras celebridades também foram muito vistas na Netflix: Pamela Anderson, Príncipe Harry e Arnold Schwarzenegger.
Ou seja, se a carreira de alguém acostumado aos holofotes começar a claudicar, a chance de estrelar um documentário é altíssima. A razão é simples: um seriado baseado em fatos reais é passaporte certo para rebobinar a fama de uma estrela em decadência.
Mas isso não quer dizer que apenas ex-famosos sejam alvo do interesse da Netflix. Estrelas da atualidade, como Anitta, Beyoncé, Neymar, Taylor Swift e Lady Gaga também foram alvo de produções da plataforma de streamimg. Qual a diferença? Amarradas por restrições impostas pelos empresários dos famosos, o conteúdo é invariavelmente chapa branca e sem surpresas para fãs mais espevitados.
Ex-celebridades, porém, não têm esse tipo de frescura, pois estão mais interessadas em recuperar a fama. O resultado disso é a utilização de histórias mais picantes ou polêmicas nos roteiros, que fazem a alegria da audiência.
Qual é a razão para a Netflix investir nessas produções? Segue explicação publicada no próprio site da empresa: “Essas histórias reais são extraordinárias porque nos lembram o absurdo da vida cotidiana e como pessoas reais e circunstâncias específicas podem criar as mais interessantes narrativas. Parafraseando Mark Twain: a verdade é de fato mais esquisita que a ficção”.
Os produtores de streaming também voltam suas baterias para a vida de quem não está mais entre nós, buscando roteiros suculentos e recheados discretamente com alguns escândalos. Fazem parte desse grupo o cantor George Michael, a modelo Anna Nicole Smith, a cantora Nina Simone e o trumpetista Miles Davis. Percebe-se que existe um interesse específico em drogas ou sexo nessas produções. E uma atenção especial parece ser dada a quem tem uma trajetória marcada pelo pacote completo. Ou seja, drogas e sexo.
Muitos assistem a documentários para entender o significado de alguns personagens dentro de um determinado contexto histórico. Mas, no caso de celebridades, muitas vezes a vida frívola experimentada por estas pessoas sequer proporciona reflexões sobre seus papéis dentro da cronologia da história recente.
Talvez o fascínio sobre a vida dos famosos esteja vinculado ao voyerismo que se espalhou com o crescimento inexorável das redes sociais em nosso cotidiano. Mas, ao mesmo tempo, muitos de nós têm uma curiosidade mórbida em testemunhar os momentos em que as celebridades se mostram seres comuns, com os mesmos defeitos que nós também temos.
Ao verificar que esses famosos passam por situações iguais às nossas, nós nos sentimos reconfortados. E, ao perceber que, muitas vezes, nós conseguimos nos sair melhor das adversidades do que essas pessoas, cria-se uma euforia silenciosa dentro de nosso peito.
Isso nos faz crescer como seres humanos? Não. Mas nos propicia uma sensação de alívio e de recompensa que é quase viciante. Trata-se daquilo que os americanos chamam de “guilty pleasure”. Um prazer que vem acompanhado de uma certa dose de culpa. Mas, no fundo, não devemos nos sentir culpados. Afinal, ninguém é perfeito. Nem as celebridades.