Nestas férias de julho, passei pouco tempo diante da TV. Mas, em um determinado dia, assistindo às notícias locais, vi uma reportagem inacreditável. Daniel Meyers, sócio de um restaurante italiano em Miami que havia recentemente recebido uma estrela no guia Michelin, aparecia absolutamente furioso. Seu estabelecimento, chamado Boia De, começou a receber resenhas ruins em um site de avaliação de restaurantes, em uma quantidade fora do comum, com impropérios que nada tinham a ver com o trabalho de seus chefs. Alguns dias depois, Meyers e sua sócia, Luciana Giangrande (imagem), receberam uma mensagem em sua caixa de entrada, de alguém que dizia ser o autor das críticas negativas.
Nesse e-mail, o sujeito pedia US$ 75 para parar de enviar avaliações negativas do restaurante aos sites especializados em gastronomia. Ou seja, uma chantagem cibernética explícita. Meyers não cedeu à extorsão, apesar do valor irrisório, e foi à imprensa para denunciar o achaque. O resultado? Milhares de mensagens de apoio e um crescimento na avaliação de seu restaurante.
O caso deste restaurante mostra como os espertalhões estão sempre analisando as oportunidades que a tecnologia oferece para aplicar seus golpes. Este episódio me fez lembrar algo ocorrido há quase trinta nos em um dos primeiros provedores de acesso à Internet. A empresa, a NutecNet, estava presente em vários estados brasileiros – e percebeu que, no Rio de Janeiro, a sua filial tinha um custo de telefonia desproporcional à média nacional.
Um estudo, então, foi feito. E constatou-se o seguinte: a conexão era feita via ligação telefônica. Mas vários usuários faziam essa ligação com o número 9 programado em seu discador. Naquela época, esse procedimento fazia com que se acionasse uma ligação a cobrar, que seria aceita caso quem recebesse a chamada ficasse na linha. Os servidores da NutecNet, porém, não tinham sido programados para esse tipo de ligação e aceitavam a chamada. Resultado: parte da conta telefônica do usuário tinha de ser pago pelo provedor de acesso. Era o crime perfeito, pois não havia como se descobrir o autor da chamada a cobrar.
Descoberta a malandragem, os servidores foram programados para rejeitar chamadas a cobrar – e os usuários mal-intencionados tiveram de usar sua criatividade em outro tipo de golpe cibernético, que estava apenas em sua pré-história.
Casos como estes revelam a criatividade de bandidos e cidadãos mal-intencionados. Pessoas que, se usassem o cérebro privilegiado para atividades honestas, estariam ricas ou financeiramente independentes.
P. S.: o que aconteceu com o chantagista do restaurante? Foi encontrado, preso e processado em menos de uma semana.