Muito antes da briga entre os sistemas de vídeo VHS e Betamax, houve uma disputa seminal de formatos na indústria do entretenimento. Em 1877, Thomas Edison inventou o cilindro fonográfico, que dominou os lares mais abastados nos Estados Unidos. Dez anos depois, Emile Berliner criou o gramofone e o disco gravado (mas a geringonça funcionava a manivela). Em 1901, Eldridge Johnson aperfeiçoou a invenção de Berliner, criando um motor para o gramofone e usando cera para fabricar discos. Com isso, conseguiu acelerar sua produção e deixou Edison (cuja duplicação do cilindro era muito demorada) com um mico nas mãos.
Berliner, em uma visita a Londres, viu a pintura de Francis Barraud chamada “A Voz do Dono” (imagem), com o cachorrinho Nipper ouvindo um equipamento de música. Comprou o quadro e arrematou seus direitos de imagem para usá-la no logotipo de sua gravadora, chamada Victor Talking Machine Company. Essa empresa seria vendida a um banco, que a repassou à Radio Corporation of America. As duas companhias promoveram uma fusão e o nome resultante virou RCA Victor, que atuava fabricando rádios, toca-discos e bolachas de 78 rotações.
Aliás, esses toca-discos eram chamados de “victrolas”. É por isso que, no Sul e Sudeste do país, esses equipamentos passaram a se chamar “vitrolas”. No Nordeste brasileiro, no entanto, o mercado foi dominado pela europeia Ericsson, que detinha a marca “Radiola”. Por isso, até os anos 1980, muitos nordestinos se referiam aos toca-discos como “radiolas”.
Voltando à RCA Victor: nos anos 1950, os executivos da empresa perceberam que a gravadora tinha concentrado seu portfólio em big bands ou em crooners – mas uma nova tendência musical estava crescendo a olhos vistos, o rock’n’roll. Apesar da má vontade do CEO da companhia, um diretor chamado Steve Choles ouviu falar de um novato chamado Elvis Presley, contratado por uma gravadora pequena de Memphis, chamada Sun Records. Despachou um emissário e comprou o contrato do cantor por US$ 40.000,00.
Elvis se tornaria o maior nome do rock e a maior estrela da RCA Victor. Das dez canções mais vendidas na história da gravadora, seis são do intérprete de “Hound Dog”. Curiosamente, no entanto, a música de maior sucesso do selo não é do rei do rock – e sim de uma dupla de espanhóis de Sevilha. Estamos falando da indefectível “Macarena”.
Lançada originalmente como uma rumba, a canção surgiu de improviso na Venezuela, onde a dupla de músicos foi convidada a ver um espetáculo de dança na casa do empresário de comunicações Gustavo Cisneros. O anfitrião havia convidado uma dançarina, chamada Diana Herrera, para fazer um “pocket show”. No meio do espetáculo, Antonio Romero – da dupla – improvisou os versos “Diana, dale a tu cuerpo alegría y cosas buenas!”. De volta à Espanha, trabalharam na canção inspirada pelo evento na Venezuela e incluíram o nome “Madalena” no refrão. Até que Romero resolveu trocar o epíteto pelo de uma de suas filhas, Macarena (na verdade, Esperanza Macarena).
O sucesso viria para valer quando a canção foi remixada pela dupla de produtores Bayside Boys e ganhou letras em inglês. Ninguém, na indústria fonográfica, achou que a música faria sucesso fora do circuito de casas noturnas. Mas o chefe do escritório da RCA em Miami não teve dúvida: contratou a dupla de tiozinhos (eles tinham 48 anos quando a música explodiu nas paradas mundiais) e o resto é história.
P.S.: e a dancinha? Foi criada pela coreógrafa Mya Frye para o vídeo promocional da canção. Ela é a primeira a aparecer no vídeo de “Macarena”.
P.S. 2: Esse remix tem dois samples conhecidos. O primeiro é a risada da cantora Alison Moyet na canção “Situation”, da banda Yazoo. O segundo é a frase “I’m not trying to seduce you”, dita pela atriz Anne Bancroft no filme “A Primeira Noite de um Homem”, que também foi utlizada por George Michael na canção “Too Funky”.
P.S. 3: “Macarena” foi eleita a segunda música mais irritante de todos os tempos, segundo a revista Rolling Stone. A primeria é “My Humps”, dos Black Eyed Peas — só que a gravadora da banda americana é a A&M Records.