Há um ano, tive um ataque de nostalgia e comprei um aparelho de som igualzinho ao que tinha em minha casa aos onze anos de idade. Trata-se de um aparelho compacto, que reúne toca-discos, rádio e tape-deck em uma única peça – algo que se convencionou a chamar nos anos 1970 de “Três em Um”. Esse que comprei estava em bom estado, mas mesmo assim tive de mandar fazer uma reforma substancial (o gravador, porém, não foi recuperado). Com esse National Panasonic, agora em 2022, tive a oportunidade de tocar uma quantidade razoável de discos de vinil que ainda possuía.
Desde então, tenho um ritual nas manhãs de sábado e domingo. Separo alguns minutos para ouvir um dos meus discos. Quando fui deejay profissional, aos 21 anos, cheguei a ter mais de 1000. Hoje, deste acervo original, sobraram cerca de cem. Gravo a execução de uma música em vídeo e posto religiosamente nas redes sociais. Muitos amigos curtem essas postagens, que também são colocadas em grupos de WhatsApp.
Percebo que alguns jovens gostam deste ritual e curtem o conjunto: os flashbacks, a imagem retrô (o Três em Um fica, em casa, ao lado de um aparelho de TV portátil preto e branco, igual ao que tive quando pré-adolescente) e os eventuais pulos na agulha. Meu filho de 24 anos também gosta dessa brincadeira: ele, como o pai, possui uma pick-up e uma pequena coleção de vinis.
Alguns dias atrás, recebemos uns amigos para jantar em casa. Quando todos chegaram, estava tocando uma playlist armazenada em meu smartphone e sonorizada através de uma caixa de som sem fio. Som puro, com fortes graves e agudos muito bem equalizados. Muitos dos convidados, porém, pediram que eu usasse o velho Três em Um e tocasse os meus discos de vinil, com seus chiados e estalos. Todos adoraram a experiência.
Percebi, naquela hora, que não estou sozinho neste mundo analógico. Segundo o site Statista, foram vendidos 27,5 milhões de discos em 2020. Ainda não temos os números fechados do ano passado, mas no primeiro semestre foram vendidas 19,2 milhões de unidades, o que significa um crescimento de 108 % em relação ao mesmo período do ano anterior.
Há algumas razões para a volta deste fetiche.
O tamanho da capa do disco é um dele. Pode-se admirar a capa como uma obra de arte, procurando detalhes escondidos na contracapa ou nos encartes, que muitas vezes trazem as letras das músicas.
Mas, para mim, o que mais me fascina é o barulho que escutamos quando a agulha desce e toca os sulcos do vinil. Aqueles sinais de estática, que pipocam rapidamente entre uma faixa e outra, me trazem um conforto mental imediato. É como se eu fosse jovem de novo e sem peso algum em meus ombros – apenas um garoto que está sentado no chão de sua sala ouvindo música.
Minha filha de 14 acha fascinante ver uma bolacha preta de doze polegadas produzir músicas quando entre em contato com algo que parece ser um prego muito afiado. Quando eu disse a ela que muitas agulhas tinham diamante em sua composição, ela me deu um sorriso incrédulo e me ofereceu um olhar de descrédito (é nessas horas que percebo a idade que tenho e como era diferente o mundo que eu vivia, pré-adolescente, do atual).
Se você, como eu, precisa tirar alguns momentos para si mesmo e desligar sua cabeça do mundo exterior, sugiro este hobby, divertido e nostálgico ao mesmo tempo. Optei por um aparelho de qualidade duvidosa, mas cujo layout me traz memórias afetivas deliciosas. Outros amigos, porém, investiram um dinheiro razoável e compraram equipamentos high-end que reproduzem os discos de maneira sublime.
Não importa como resgatar a magia do vinil. Todas as maneiras são válidas. O importante é voltar ao tempo em que as pessoas paravam tudo para ouvir música, prestando atenção nas letras e nos arranjos. Essa viagem sensorial nos ajuda a enfrentar a dureza do dia a dia, energizando nosso cérebro para a brutal luta cotidiana.
Se você não gosta de música ou de discos, procure algo equivalente em seu universo de hobbies. Tenho certeza de que sentirá a diferença – e sua vida vai ficar mais leve e divertida.
Respostas de 11
Amigo, na pandemia, eu , notório apreciador de rock, comprei um toca discos de boa qualidade e caixas Comecei então a recuperar meus discos antigos da casa de ex mulheres e parentes,
Mas hoje, posso te dizer , um dos meus maiores prazeres é quando chega um disco da Inglaterra ou da Alemanha, que fiquei esperando 30/45 dias
Coisa de louco.. Edições especiais de Luxo que ninguém aqui tem. Realmente é maravilhoso
Vc está de parabéns
Costumo ligar minhas pickups em casa todo sábado à tarde, assim que chego do trabalho, e escuto entre 2 e 3 LPs (flash house anos 80 e 90). Pra quem curte o chiado e estalo do vinil, é muito bom! Às vezes costumo escutar também minhas fitas cassette, gravadas entre as décadas de 80 e 90, mas o vinil ainda é preferência na hora de escutar um bom “sonzão” em casa.
Sou fã, colecionador e vendedor dos velhos bolachões. Tenho centenas de vinis em casa. A propósito, quem também ama os vinis e quiser renovar o acervo pessoal ou presentear um amigo, dê uma olhadinha em @discotecabrasiloficial no Facebook ou Instagram.
Belo depoimento, parabéns.
Sensacional, verdadeiro e muita qualidade de som tem o vinil. Amamos porque não se trata só de um disco, mas uma verdadeira e histórica obra de arte retornando ao nosso convívio. Linda a sua matéria e tem tudo à ver com nossa história de vida. Obrigado meu nobre amigo. Paz e bem.
Eu tenho um vitrola nipon dos anos 70 curso ela ainda funciona até bem pela idade dela ,eu tenho um de 40 gradiente , mas não se compara a vitrola ,que amo e posso ouvir minhas coleções de Vinil
Belo relato!!!!!pois também fui DJ aos 19 anos de idade, e hoje aos 49, tbm comprei uma pikup e coleciono discos de vinil, com nostalgia al rock.
Eu nunca parei de escutar,,, mesmo apreciando o Cd,,sempre escutei e aproveitei pra comprar muita coisa barata na época,,hoje fico assustado com o preço dos vinis.
Também nunca deixei de escutar. Tenho um System 300 Philips, comprado em 1986.Tem um som incrível Já tive que fazer emendas nos fios das caixas se som porque quebraram.
Vinil eterno.
Sempre gostei de vinil, ouvindo sempre qdo meu pai colocava o disco, ficava admirando o disco rodar no prato, e até hoje tenho uns discos ainda da época do meu pai, e da minha adolescência, e continuo comprando em sebos ou importando da Europa, comprei até um toca discos novo atual para conjugar com um som que havia comprado no final do século passado, é claro que tanto ficar parado tive que restaura-lo e assim o fiz , funciona tudo, cd, toca fitas e com o novo toca discos que comprei ficou completo, e nos finais de semana relaxo ouvindo os vinis,e passo também essa experiência para as minhas filhas de 7 e 12 anos que tbem curtem o som comigo. Acho isso uma cultura saudável e que hoje em dia falta mais de coisas físicas e sair um pouco dos virtuais,.
Saudações, estou querendo vender um toca disco Technika na caixa mais na caixa mais não sei pra quem vender não sei que curte Vinil.