Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

É possível relevar o lado ruim das pessoas?

Em setembro de 2021, escrevi uma coluna sobre o lado B dos amigos – uma conjunção de características indesejáveis que percebíamos nas pessoas de nosso relacionamento com o verdadeiro desnudamento que as redes sociais promovem em determinados indivíduos. Não são todos os que mostram seus traços de personalidade na internet. Há os voyeurs e aqueles que simplesmente escondem o jogo em suas postagens. Mas a maioria mostra todas as suas qualidades e defeitos no cotidiano digital.

De 2021 para cá, as coisas pioraram em termos de polarização política, que causou gatilhos em outros campos, como o da religião e do comportamento. Uma espécie de batalha digital entre o conservadorismo e (na falta de palavra melhor) o progressismo começou a ser travada nas redes.

Poucas vezes, na vida, conheci alguém que fosse totalmente conservador ou plenamente progressista. A maioria dos meus conhecidos – próximos ou não – é composta por pessoas cuja formação moldou personalidades mais complexas, com características conflituantes e contraditórias dentro de cada um.

Nas redes sociais, no entanto, é possível ver gente que se pinta como sendo 100 % de um lado ou de outro. O problema é que, com o acirramento de ânimos, esses homens e mulheres acabam assumindo posições que soam extremistas e chocantes.

Quando essas pessoas são meros conhecidos, balançamos a cabeça e seguimos em frente. O problema é ter de conviver com pessoas que demonstram certas características que detestamos, mas temos um forte sentimento de amizade por elas.

Outro dia, presenciei uma discussão muito agressiva entre membros de um grupo que conhecia. Um deles decretou que a amizade deles estava encerrada. Mas percebia-se que eram apenas conhecidos – não amigos.

Quando há amizade envolvida, é difícil enfrentar o lado detestável dos outros. Mas, muitas vezes, é impossível manter um relacionamento com gente que propõe atitudes que afrontam diretamente as nossas crenças.

Essa questão não se restringe a tópicos relativos à política ou à agenda de costumes. Há pessoas às quais queremos bem que possuem traços indesejáveis: língua extremamente ferina, tendência à fofoca, inveja, impaciência, explosões de raiva, capacidade infinita de diminuir os outros, negação constante da realidade… bem, a lista é longa.

É possível relevar essas características ruins? Sim, é plenamente possível.

Quando somos pais, nos acostumamos a relevar os defeitos de nossos filhos e nossas filhas. Nos decepcionamos, mas encontramos uma forma de perdoar e tocar nossas vidas. Ao mesmo tempo, tentamos orientar sobre o que achamos ser certo ou errado – mas o aprendizado depende mais deles do que nós.

Em muitos casos, podemos ter a mesma paciência que reservamos para os filhos aos amigos. É só querer.

Na prática, é o mesmo que separar o autor de sua obra. Há gênios da música, do cinema e da literatura que foram (ou são) seres desprezíveis. Mas criaram verdadeiras joias em seus campos de atuação. Como separar essas realizações artísticas que beiram a perfeição de seus criadores que merecem o nosso desdém ou desapreço? Trata-se de algo dificílimo, que só se alcança com muita disciplina e perseverança (a alternativa é riscar a obra desse gênio de sua vida).

A grande dúvida que fica é: quais serão as pessoas que vão merecer o nosso esforço em mantê-las dentro de nosso círculo de amizades?

Não há como resolver facilmente essa questão. A única maneira de elucidar esse enigma é na base do empirismo, da tentativa e erro. Se acertarmos, muito bem. Se errarmos, a melhor maneira é não nos importarmos com o erro e olhar para frente – nunca para trás.

Compartilhe

Comentários

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.