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Edu Lobo: aos 80 anos, um exemplo para todos nós

Edu Lobo está no Olimpo da MPB (sigla que ele diz detestar, por sinal), é um dos músicos mais talentosos do Brasil e chega aos 80 anos com energia total. Ele lança no dia 7 de novembro um álbum duplo e, três dias depois, estreia um show em São Paulo, no Teatro B32. Edu é filho do jornalista e compositor pernambucano Fernando Lobo, autor de um clássico do cancioneiro nacional: “Chuvas de Verão”, grande sucesso na voz de Francisco Alves e Maysa (sugiro, porém, a interpretação de Caetano Veloso, em gravação de 1969).

Edu Lobo ganhou fama e reconhecimento em plena era dos festivais. Abiscoitou o primeiro que disputou, com “Arrastão”, em parceria com Vinícius de Moraes e voz de Elis Regina. Venceu também o segundo no qual participou, desta vez como autor e intérprete, em 1967, com “Ponteio”.

O Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, que teve Edu como vencedor, é um dos eventos mais celebrados da cultura tupiniquim. Esse foi o festival em que Sérgio Ricardo, incomodado com as vaias dirigidas a “Beto Bom de Bola”, quebrou seu violão no palco e o jogou à plateia. Foi também a primeira vez que artistas se apresentaram com guitarras no palco (Gilberto Gil e Caetano Veloso) de uma competição do gênero.

Havia, no público, profissionais da vaia. Tirando os três primeiros colocados, os demais finalistas foram vaiados em maior ou menor intensidade – incluindo “Maria, Carnaval e Cinzas”, de Luiz Carlos Paraná (amigo do meu pai), interpretada pelo maior ídolo musical da época, Roberto Carlos, que obteve o quinto posto na classificação geral.

Caetano Veloso apresentou-se com “Alegria, Alegria”. Poucas pessoas prestam atenção nessa letra e se fixam apenas no refrão que diz “sem lenço, sem documento” (a canção, na verdade, é sobre um jovem devaneando em frente a uma banca de jornais, hipnotizado pelas manchetes e fotos das capas de revistas). No meio desses versos, há um que traduz a nossa perplexidade diante de tanto conteúdo a nós ofertado pela internet: “Quem lê tanta notícia?”. Uma curiosidade: na banda de Caetano, os Beat Boys, há dois argentinos (Tony Osanah e Willy Vedarguer) que anos mais tarde formariam o grupo Raíces de America. Caetano chegou em quarto lugar e conseguiu mudar os ânimos da plateia, começando sob vaias e terminando absolutamente aplaudido.

O terceiro lugar coube a Chico Buarque, com “Roda Viva”, cuja letra que protestava contra a falta de democracia naqueles anos de ditadura militar. E surpreendia pelo espetacular arranjo vocal criado pelo grupo MPB-4, que acompanhou o jovem e tímido compositor.

Em um degrau acima do pódio ficou Gilberto Gil, que se fez acompanhar pelos Mutantes, jovenzinhos de tudo. A letra primorosa de Gil tem uma narrativa impecável, que vai crescendo lentamente, e casa perfeitamente com o arranjo de Rogério Duprat, que cria um suspense digno de Alfred Hitchcock.

Mas a estrela daquela noite foi Edu Lobo, que cantou junto com Marília Medalha. Edu juntou dois grupos para acompanhá-lo e montou uma espécie de “dream team” musical. Um deles era o Quarteto Novo, que tinha o virtuose Heraldo do Monte (autor do solo da viola em “Ponteio”), o maestro Theo de Barros, o percussionista Airto Moreira e o instrumentista múltiplo Hermeto Paschoal. A outra banda de apoio (que ficou com os backing vocals) se chamava Momento Quatro e tinha três músicos que ficariam famosos depois de algum tempo. Um deles era o jovem José Rodrigues, que ganharia notoriedade como Zé Rodrix. Além dele, o grupo contava com Maurício Mendonça e David Tygel. Os dois, ao final da década seguinte, formariam o quarteto Boca Livre (quando Mendonça adotou o nome artístico de “Maurício Maestro”).

Um documentário de 2010, intitulado “Uma noite em 67”, conta a história deste festival, com cenas de bastidores (é incrível ver que todo mundo fumava, incluindo o repórter Randal Juliano, pitando no meio das entrevistas), nas quais podemos ver um clima de camaradagem entre todos os competidores – que apostavam na vitória de Edu Lobo.

Trata-se de um momento único para a música brasileira, que foi protagonizado pelo hoje octogenário Edu. Ao qual eu prestarei minhas devidas homenagens no dia 10 de novembro, em seu show. Parabéns, mestre. Você é um exemplo para todos nós.

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