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Fiz sessenta anos. Sou um idoso?

Neste dois de abril, faço 60 anos de existência. Quando era garoto e ouvia alguém dizer que tinha essa idade, sentia uma certa pena. Afinal, essa marca era o sinal inequívoco de que aquela pessoa era muito velha. Não era para menos. Em 1970, por exemplo, a expectativa média de vida para o brasileiro era de 57 anos. Seis décadas, assim, representavam três anos de prorrogação. Hoje, essa mesma estatística está em torno de 77 anos.

Muitos dizem que os Sessenta são os novos Quarenta. Será? Se levarmos em consideração a longevidade, faz sentido – um sentido um tanto otimista, eu sei. Mas eu conheço vários amigos que já ultrapassaram essa barreira. E permanecem joviais, incansáveis e laboriosos. Outros, porém, sentiram o peso dos anos. Qual é a diferença entre esses dois grupos de pessoas?

Percebo que pessoas realizadas, otimistas e curiosas parecem mais jovens. São aquelas que não consideram a vida um fardo, mas sim algo a ser saboreado – mesmo durante as dificuldades naturais que surgem diante de nossa jornada. O segredo talvez esteja na leveza. Não se deixar abater diante dos problemas e se manter leve. Percebo, agora que sou mais velho, que o rancor mata aos poucos. Muitos daqueles que via rancorosos na meia-idade não chegaram até aqui. Ou então envelheceram o dobro do que deveriam.

Ao mesmo tempo, consigo ver que muitas pessoas marcadas pelo rancor deixaram essa atitude para trás e se transformaram em indivíduos mais sorridentes e tranquilos. A cólera represada dentro do peito é um veneno que vai matando a alma aos poucos.

Mas o segredo da jovialidade não tem a ver somente com a mente – o corpo também tem parte importante nessa equação. A força da natureza é inevitável: nossos músculos vão ficar mais rígidos, perdendo elasticidade, e perderão massa, ficando mais fracos. Nosso metabolismo vai ficar ainda mais lento. E nosso fôlego ficará mais curto.

Precisamos nos antecipar a esses desafios e fazer atividades físicas. Não vamos treinar para maratonas ou triatlos. Mas precisamos conseguir subir escadas, pegar objetos que caem no chão e segurar sacolas sem desconforto. Como vamos manter essas atividades do dia a dia? Separando alguns dias da semana para musculação, alongamento e cárdio.

A essa altura do campeonato, é preciso cuidar do corpo não por uma questão de vaidade, mas de saúde. E também por conta de outra razão importantíssima: manter a nossa dignidade, que é baseada em nossa independência física (ao mesmo tempo, também necessitamos nos preparar para o momento em que nossa locomoção ficará prejudicada e vamos ter de contar com a ajuda alheia – mas isso é um problema para daqui a duas décadas).

Por mais que tenhamos foco no cuidado com o nosso corpo, não podemos nos privar dos prazeres do cotidiano. Sem isso, ficamos chatos demais – e ninguém quer um velho chato por perto. Portanto, precisamos saber balancear indulgências e a disciplina. Uma tarefa dificílima.

Outro ponto importante que faz alguém jovial, mesmo com idade avançada: amizades sólidas e relações familiares resistentes a todo o tipo de intempérie. E alguém ao seu lado. Uma pessoa que te ame e seja amada, que seja solidária e atenta (mas você também precisa ser solidário e atento). Como diria Tom Jobim, “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.

Mais uma – e última – constatação: viva intensamente o presente. Lembre-se das lições do passado, obviamente, e faça planos (eu mesmo quero ir ainda esse ano para conhecer o Monument Valley, no Arizona, que pode ser visto na imagem que ilustra esse texto). Mas veja sempre o presente como uma oportunidade para melhorar e evoluir. Como em “Blackbird”, dos Beatles, composta por Paul McCartney aos 26 anos de idade. Essa canção teve a melodia inspirada por uma peça de Bach e sua letra é, segundo Paul, uma metáfora para os protestos negros nos Estados Unidos em 1968. Mas poesia é poesia e pode ser aplicada a qualquer situação de sua vida — desde que você se emocione com ela. Para mim, é uma letra que representa muito a minha vida atual e o amanhã que eu desejo:

“Blackbird singing in the dead of night (pássaro preto cantando na calada da noite)

Take these broken wings and learn to fly (pegue essas asas quebradas e aprenda a voar)

All your life (por toda a sua vida)

You were only waiting for this moment to arise (você só estava esperando esse momento aparecer)”

Paul McCartney cantando Blackbird no especial “Abbey Road Live”
“Bourrée em Mi menor”, de Bach, que inspirou a melodia de “Blackbird”

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