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Gershkovich: não podemos deixar a democracia morrer na escuridão

O governo russo prendeu ontem o jornalista Evan Gershkovich, correspondente do Wall Street Journal no país. A acusação? Espionagem. Segundo a agência de segurança russa, Gershkovich estava “agindo sob as instruções do lado americano e coletou informações que constituem segredo de Estado sobre as atividades de uma das empresas do complexo militar-industrial russo”.

A Rússia vive um estado policial comandado por Vladimir Putin e frequentemente utiliza mentiras para justificar atos dignos de um regime de exceção. Usa a censura frequentemente e prende jornalistas que se atrevem a registrar a pura verdade.

Um espião estrangeiro poderia escolher qualquer profissão como disfarce – no caso de James Bond, por exemplo, ele é um diretor da Universal Exports, o que explica seu vaivém pelo mundo inteiro. Mas porque um espião escolheria ser um repórter? Jornalistas geralmente estão no centro dos acontecimentos, acompanhando os fatos. E quando resolvem dar sua opinião, se transformam em pessoas com razoável notoriedade. Existe, assim, alguma vantagem em um espião se fingir de repórter?

O jornalista tem acesso a muitas pessoas, que podem oferecer muita informação. Até aí, tudo bem. O único problema é que os entrevistados, de maneira geral, não soltam a língua facilmente. Imagine agora um correspondente americano tentando arrancar informações secretas de um russo. A chance de sucesso, neste caso, deve ser próxima a zero.

A união das palavras “espião” e “jornalista” me faz lembrar um caso ocorrido no início dos anos 1990. Um alto executivo de uma empresa de cartão de crédito era tido no mercado como paranoico, pois acreditava que dois jornalistas da área de finanças eram espiões enviados pela concorrência para arrancar segredos de sua companhia. Passei dois anos ouvindo essa ladainha (um desses repórteres era meu subordinado). Até saber que o tal executivo tinha sido contratado pelo tal concorrente (aquele que supostamente tinha os repórteres em sua forlha de pagamento).

Gershkovich está preso e seu encarceramento vai criar mais um incidente diplomático entre Joe Biden e Putin. O jornalista, infelizmente, vai amargar um tempo considerável na cadeia, pois essas negociações nunca são rápidas. Ele é mais uma vítima dessa perseguição que se trama, nas ditaduras, contra a liberdade de expressão e a verdade.

O jornalista preso trabalha no Wall Street Journal. Mas vou postar, em sua homenagem, um comercial de TV feito pelo Washington Post quatro anos atrás, narrado pelo ator Tom Hanks e veiculado durante o intervalo do Super Bowl. Hanks declama o seguinte texto:

“Quando nós vamos à guerra.

Quando nós exercemos os nossos direitos.

Quando atingimos a nossa maior altura.

Quando nos enlutamos e rezamos.

Quando nossos vizinhos estão em risco.

Quando a nossa nação é ameaçada.

Há alguém que vai buscar os fatos.

Para trazer a você a história.

Não importa o custo.

Porque saber nos empodera.

Saber nos ajuda a decidir.

Saber nos mantêm livres”.

O comercial, então, se encerra com o slogan do “Post”: a democracia morre na escuridão.

Não podemos deixar essa prisão no escuro. Em nome dos 67 profissionais de imprensa que foram assassinados em 2022, é preciso deixar essa história viva. Não podemos esquecer de Gershkovich e de tantos outros que estão presos por escrever a verdade. Não podemos deixar a democracia morrer na escuridão.

Comercial do Washington Post veiculado no Super Bowl de quatro anos atrás

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