No século retrasado, em um 29 de janeiro, foi promulgado o “Compromisso de 1850”, um acordo costurado pelo senador Henry Clay (imagem) que visava amenizar as tensões envolvendo a escravidão entre os estados americanos. O tratado permitiu que a Califórnia virasse uma região totalmente livre de escravos – e permitiu a criação de Utah e de Novo México, cujos cidadãos poderiam decidir sobre se permitiriam ou não a existência da escravatura em suas áreas. O documento, ainda, deixava que cativos fugitivos pudessem ser capturados em outros estados, inclusive aqueles que não permitiam a escravidão.
Clay, com essa costura, queria amainar os conflitos já existentes entre o Norte e o Sul do país, tentando encontrar um meio-termo entre as posições antagônicas. Por essa iniciativa e por outras semelhantes, ficou conhecido como “Henry, o Pacificador”. O “Compromisso de 1850”, no entanto, apenas adiou um embate armado por onze anos. Em 1861, Sul e Norte entrariam em guerra, vencida pelos abolicionistas.
O esforço de Clay em evitar um confronto bélico entre cidadãos é algo louvável e digno de aplausos. Mas, ao mesmo tempo, é um exemplo típico de acordo no qual os dois lados aceitam, mas ficam insatisfeitos. No mundo empresarial, há inúmeros exemplos de compromissos que evitam uma discórdia imediata – mas apenas postergam uma briga inevitável e carregada de virulência.
Diante disso, surge uma dúvida. O que seria melhor? Um mau acordo ou uma briga que resolva logo a pendenga?
Os advogados gostam de citar o seguinte ditado: “”mais vale um mau acordo que uma boa demanda”. Em muitos casos, isso pode ser verdade. Mas, em outras situações, os dois lados podem ficar com a garganta entalada e voltar a discutir.
Outro ditado pode definir a situação na qual a insatisfação reina entre sócios ou parceiros de negócios: “É melhor um final horroroso que um horror sem fim”. Enfrentar diretamente o problema e encarar racionalmente pontos de discórdia que jamais serão resolvidos deveria ser regra no mercado. Mas, normalmente, somos tomados pela emoção e amplificamos os problemas durante uma mediação.
O ideal seria suprimirmos os sentimentos da mesa de negociações – mas sabemos que isso é impossível. É por esta razão que, como em uma guerra, não podemos ir para o front sozinhos. Necessitamos de ajuda profissional, especialmente daqueles que conseguem manter o sangue frio nos momentos mais difíceis. Mas não podemos cair na tentação de encontrar uma solução a qualquer preço. Neste caso, estaremos apenas adiando um desfecho radical, como Clay fez ao adiar a Guerra Civil americana em pouco mais de uma década.
Apesar de ter ganho a alcunha de “pacificador”, Clay se envolveu em dois duelos com arma de fogo ao longo de sua vida. Em nenhum dos casos houve vítimas, mas o parlamentar foi ferido em uma ocasião – e acertou um de seus oponentes. Esses episódios mostram que mesmo alguém que pregou a paz no Congresso americano durante décadas, como Henry Clay, não conseguiu segurar sua raiva em determinados momentos.