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Ibirapuera: em seus 70 anos, memórias afetivas de montão

Na última quarta-feira, o Parque Ibirapuera completou 70 anos. Trata-se do centro público de lazer mais famoso da cidade de São Paulo, embora não seja o maior (o Parque Ecológico do Tietê é onze vezes mais extenso). No último dia 25 de janeiro, escrevi sobre o Ibirapuera em um artigo sobre o aniversário da fundação de São Paulo. Vale a pena reler um trecho:

“Durante muito tempo, a área ficou abandonada, sem utilização. E as autoridades tinham um projeto de transferir o hipódromo da rua Bresser para lá. A estrutura da Mooca tinha ficado pequena para acolher o público cada vez maior do turfe e o Ibirapuera quase foi utilizado para abrigar as corridas de cavalo. Ocorre que a Companhia Cidade Jardim, que iria lotear o bairro homônimo em parceria com a empresa urbanizadora britânica City, doou um terreno de 600 000 metros quadrados às margens do rio Pinheiros. O Jockey Club foi lá erguido entre 1937 e 1941 e deixou o Ibirapuera livre para outra iniciativa.

Esse impasse envolvendo o hipódromo também havia interrompido a construção do Monumento às Bandeiras (o popular “empurra-empurra”, que deveria se chamar “puxa-puxa”). O autor Victor Brecheret tinha iniciado a obra na década de 1930, mas teve de esperar o desenlace em torno do turfe paulistano para voltar ao trabalho. Um pouco antes, o biólogo Manuel Lopes de Oliveira (mais conhecido como Manequinho Lopes) tinha plantado centenas de eucaliptos australianos para drenar o solo pantanoso do local.

No início da década de 1950, o martelo foi batido e encomendou-se o projeto do parque a Oscar Niemeyer. Naquela época, o terreno era bem maior que o atual. De um lado, ia até onde está hoje o Instituto Biológico. Na ponta oposta, ultrapassava o Jardim Lusitânia e terminava onde está hoje a avenida Ibirapuera. Faziam parte do pacote o “empurra-empurra” e o Ginásio do Ibirapuera, projetado por Ícaro de Castro Mello (também autor da piscina coberta do Parque Água Branca e da sede do Esporte Clube Pinheiros)”.

Na foto que ilustra este artigo, tirada um pouco antes da inauguração do Ibirapuera, é possível ver que ainda não existia a avenida Pedro Álvares Cabral e a Assembleia Legislativa (e o Obelisco era integrado ao projeto original). No canto inferior direito, também pode-se enxergar os pavilhões de exposição, que foram demolidos com a inauguração do complexo do Anhembi, em 1970. Curiosamente, o projeto de Oscar Niemeyer, hoje, aclamado por todos, foi alvo de críticas por parte de xiitas que se incomodaram com a interferência do arquiteto no verde do parque — alguns, até, defenderam a demolição do conjunto para que se plantassem mais árvores.

Na década de 1970, era permitida a livre circulação de automóveis pelo parque. As alamedas pelas quais hoje passeiam pedestres eram ruas com um número razoável de veículos rodando (há, um pouco depois o Planetário, um ponto de ônibus desativado que existe até hoje). Nos finais de semana, inclusive, havia congestionamento de carros na rua vizinha à marquise. Ali, onde hoje é um estacionamento, havia o famoso “zerinho”, um local onde motociclistas davam voltas e, às vezes, executavam acrobacias sobre duas rodas.

Existia um número bem maior de estabelecimentos comerciais. Um café, que à noite virava uma boate (cujo dono era o apresentador Osvaldo Sargentelli), ficava bem perto do “zerinho” e havia uma churrascaria próxima a um dos lagos.

Mas o local possuiu duas atrações passageiras, que eu adorava, ambas localizadas onde hoje fica a pista de cooper. A primeira era o tobogã. A outra era uma roda gigante de madeira, impulsionada manualmente pelos adultos.

Nestes 70 anos, o parque foi alvo de algumas decisões tresloucadas, como as do então prefeito Jânio Quadros, que na década de 1980 proibiu o uso de sungas e biquínis do tipo fio dental. Além disso, baixou um decreto impedindo a circulação de bicicletas grandes no parque. No final de semana seguinte, o Ibirapuera foi tomado por adultos pedalando bicicletas infantis – um protesto divertido que tirou o prefeito do sério.

Até recentemente, o parque dependia da boa vontade da administração pública para que sua manutenção e limpeza fossem levadas a sério. Com a privatização, no entanto, o local está constantemente limpo, a vegetação muito bem cuidada e os banheiros impecáveis. O preço a pagar é ver propagandas em telões e ter pequenas lojas próximas ao passeio? Me parece uma troca excepcional para os paulistanos. Mesmo quando falamos de parques públicos, a iniciativa privada sempre consegue melhorar aquilo que os governos normalmente negligenciam.

Feliz aniversário, Ibirapuera. Espero que possa presenciar e comemorar o seu aniversário de um século. Parabéns!

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