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Ibrahim Sued: um dos maiores repórteres do jornalismo brasileiro

Cresci em São Paulo vendo o colunista Ibrahim Sued na televisão e, mesmo pequeno, percebia que ele cometia alguns tropeços no português. O comediante Agildo Ribeiro adorava imitar essas trapalhadas e tinha um quadro inspirado no “Turco”, como ele era conhecido entre os jornalistas cariocas. Uma frase famosa de Agildo, travestido de Ibrahim, era: “Os ‘pessoal’ vai lá diariamente às ‘terça’ e quintas”.

Quando comecei a ler o jornal “O Globo”, ainda nos anos 1980, passava direto por sua coluna diária sem pousar os olhos. Mas mudei de ideia depois de um fechamento da revista Veja que varou a madrugada – quando, nós, repórteres, tínhamos de esperar a finalização das matérias até altas horas. Havia tempo ocioso entre entregar o texto e o artigo ser encaminhado à gráfica. Por isso, muitos de nós conversavam no corredor que cruzava o sexto andar do prédio da Editora Abril na marginal do rio Tietê, em São Paulo.

O sono ia embora completamente quando Elio Gaspari juntava-se ao grupo. Diretor-adjunto de redação naquela fase da revista, Elio sempre tinha uma história mesmerizante para contar. E, em uma dessas ocasiões, disse que tinha trabalhado com Ibrahim Sued, ajudando-o a apurar as notas de sua coluna social. Ele, então, falou algo que me surpreendeu: considerava Ibrahim um dos maiores repórteres com quem trabalhara.

Ver alguém da estatura profissional de Elio Gaspari elogiando aquele sujeito folclórico que falava sobre os ricos e famosos na TV me intrigou. Depois disso, passei a acompanhar diariamente o que escrevia Ibrahim. E pude conferir que Elio, como sempre, tinha razão. Aquele colunista social, que já passara dos 60 anos de idade, realmente sabia das coisas.

Nesta semana que passou, soube do falecimento de Sinval Itacarambi Leão, co-fundador da revista Imprensa, e fui dar uma olhada na coleção desta publicação, que foi até a década de 1990 muito popular nas redações. Pois a edição de número 9 estampava como personagem de capa o próprio Ibrahim.

Ao ler a matéria, fiquei sabendo que ele havia livrado alguns amigos da cadeia durante da ditadura militar: o próprio Elio e o escritor Antonio Callado. E que outros nomes importantes do jornalismo tinham trabalhado em sua coluna, como um jovem Ricardo Boechat. O próprio Boechat é quem melhor, na reportagem, definiu a trajetória de Ibrahim, de repórter fotográfico (de seções policiais) ao posto de maior colunista social do Brasil. “Ele comeu muito sal antes até chegar a todo esse caviar”, comparou.

Morreu aos 71 anos, em 1995, e o centenário de seu nascimento ocorreu em 23 de junho. Era admirado, temido e odiado por muitos. Mas sempre foi considerado leal e generoso com os amigos e com os colaboradores mais próximos.

Em sua coluna, o “Turco” ainda criou expressões impagáveis – algumas das quais sobrevivem até hoje:

+ “Bomba! Bomba! Bomba!” – era o que ele dizia (ou escrevia) quando tinha um furo de reportagem.

+ “Café Society” – quando algo era o cúmulo da sofisticação.

+ “Cavalo não desce escada” – aviso para tomar cuidado.

+ “Caixa alta” – pessoa muito rica.

+ “De leve” – com calma.

+ “Geração pão com cocada” – juventude bonita. Os meninos eram os pães e as meninas desfilavam um bronzeado semelhante à cor do doce de coco.

+ “Locomotiva” – socialite que comanda festas e acontecimentos (o termo virou nome de novela da Globo em 1977).

+ “Pantera” – mulher linda.

+ “Sorry, periferia” – cutucada que dava nos inimigos quando confirmava um furo de reportagem.

+ “Su” – um sucesso.

Mas a minha expressão favorita é justamente aquela com a qual eu encerro esse texto: “Ademã, que eu vou em frente”.

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