Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Já imaginou um programa com 100% de audiência?

Imagine um mundo no qual todos estão ligados em uma única fonte. Na internet, por exemplo, 100% dos internautas surfando o mesmo portal; a totalidade dos tiktokers checando apenas um só vídeo; ou então, os usuários do Soundcloud ouvindo a mesma música. Parece impossível, certo?

Pois saiba que em outubro de 1972, 51 anos atrás, isso aconteceu na televisão aberta. Era o capítulo 152 da novela “Selva de Pedra, da Globo, e um dos grandes mistérios da trama seria revelado. No enredo, a mocinha Simone (Regina Duarte) escapa de um acidente automobilístico e acha que seu marido Cristiano (Francisco Cuoco) sabotou o carro, com o intuito de matá-la e casar com uma ricaça. Ela resolve, então, colocar uma peruca loira e aparecer como Rosana Reis, sua irmã (que, na verdade, tinha morrido ainda bebê). A nova identidade faz bastante sucesso como escultora, mas Cristiano não engole a história e resolve investigar a tal “irmã”. O capítulo 152 é justamente aquele em que essa trama chega ao final e “Rosana” é desmascarada.

A medição do Ibope chegou a 100 % dos aparelhos de TV ligados em Selva de Pedra, um feito jamais igualado por outras novelas – ou qualquer outro programa de televisão (mesmo quando as Copas do Mundo foram transmitidas por uma única emissora).

Esse episódio mostra o quanto a cultura das novelas já foi forte no Brasil – e como isso marcou algumas gerações, a minha inclusa. Várias tramas movimentaram o país, além de Selva de Pedra: Irmãos Coragem, Dancin’ Days, Roque Santeiro e Vale Tudo, para ficar em algumas. E as pessoas seguiam fielmente não apenas as histórias que iam ao ar às oito da noite (depois, às nove). Às seis, por exemplo, foi o horário de “Escrava Isaura” – um sucesso espetacular. Às sete, para ficar em três exemplos, foi a faixa de “Estúpido Cupido”, “Guerra dos Sexos” e “Que Rei sou Eu?”.

As novelas lançavam todas as tendências de comportamento: moda, gírias e até músicas. Cada novela rendia dois discos com trilhas sonoras. Na primeira metade da história, os personagens eram brindados com músicas nacionais, que viravam seus temas. Essas canções eram devidamente trabalhadas nas emissoras de rádio e viravam sucesso. Mas, na segunda metade da trama, essas canções brasileiras eram substituídas por faixas internacionais, que também faziam o maior sucesso. A emissora, então, lançava dois discos, um com a trilha nacional e outro com a internacional. A Globo começou com isso – e outras foram na mesma trilha, fazendo o mesmo com as respectivas novelas.

Os telespectadores eram tão fiéis que aceitavam a reedição de truques baratos para manter a audiência. Um deles é o famoso “quem matou?”. O caso mais notório talvez tenha sido o do personagem Odete Reutemann em “Vale Tudo”. Mas, antes, em “O Astro”, a audiência crescia à medida em que chegava a hora de revelar ao Brasil quem havia matado o empresário Salomão Ayala. Alguns anos depois, o mistério em torno do assassinato do fotógrafo mulherengo Jorge Tadeu viria a impulsionar o Ibope de “Pedra sobre pedra”.

Ainda há pessoas que seguem fielmente as novelas exibidas na televisão brasileira. Mas esse parece ser um fenômeno em extinção, assim como as publicações em papel. Os telespectadores preferem tramas mais curtas e ágeis, como as séries que são encontradas nos mecanismos de streaming.

As novelas tendem a se tornar uma recordação divertida, de um tempo em que uma única história tinha o poder de reunir toda a audiência de um país em torno de seu enredo – algo que hoje, com a inúmeras opções de entretenimento digital, é virtualmente impossível.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.