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Jeff Beck, o ídolo da minha adolescência

O guitarrista Jeff Beck, que subiu ao andar de cima nesta semana, foi uma figura importantíssima durante a minha adolescência. Foi a trilha sonora dessa passagem para a vida adulta e dois de seus discos tocaram muito na vitrola de casa. Confesso que demorei muito para conhecê-lo. A primeira vez que eu prestei atenção nele foi quando vi o filme “Blow Up”, de Michelangelo Antonioni.

Nesta época, era frequentador assíduo do Cine Bijou, na Praça Roosevelt, e do Cineclube do Bixiga, na rua 13 de Maio. Grandes películas dos anos 1960 e 1970 passavam nessas salas, sempre vazias, e ia construindo a minha cultura cinematográfica enquanto crescia. Foi assim que fui ver “Blow Up”, baseado em um conto de Julio Cortázar, de quem também era fã. O enredo se passa na chamada Swinging London da segunda metade dos anos 1960.

Thomas, um fotógrafo de moda (David Hemmings), sai pela cidade registrando cenas aleatórias até que resolve tirar uns instantâneos em um parque, atraído por Vanessa Redgrave, que está acompanhada de um homem mais velho. Acaba também registrando um crime e se mete em uma enrascada gigantesca. No meio da trama, está seguindo Jane (Redgrave) e entra em um night club. No palco, estão tocando os Yardbirds, que tinham como guitarristas Jimmy Page (fundador do Led Zeppelin) e o próprio Jeff Beck, que entrara na banda para substituir outra sumidade musical: Eric Clapton.

O personagem de Hemmings fica zanzando pela pista enquanto a banda toca a canção “Stroll On”. No meio da performance, o amplificador da guitarra de Beck começa a dar problemas e ele vai ficando irritado – até que ele bate o instrumento nos amplificadores até jogá-lo no chão e destruí-lo.

Aquela cena me marcou e fui descobrir quem era aquele guitarrista rebelde. Seu nome era conhecido, mas nunca havia ligado o nome à pessoa. Comprei, então, dois discos dele. Primeiro, “Blow by Blow”, um show de jazz e blues comandado por uma guitarra imprevisível e genial.

Logo depois, ele lançou “There and Back”, mais sofisticado e moderno, com a colaboração do tecladista Jan Hammer (que faria sucesso, mais tarde, com o tema da série “Miami Vice”). Fiquei absolutamente fissurado nos solos de guitarra, especialmente na obra-prima “The Final Peace”. Essa música é absolutamente especial – tanto pela melodia como pela genialidade com a qual Beck conduz seu instrumento.

Hoje, percebo que ele foi responsável pela trilha de um momento importante para a minha vida – os desafios, as conquistas e as frustrações que acompanham todo adolescente que deseja se tornar um adulto. Cada vez que escuto suas músicas, me vem ao peito aquela sensação maravilhosa que sentia ao ver que estava expandindo minha cultura e descobrindo pérolas do cinema, da música e da literatura.

Esse período mágico, do qual Jeff Beck involuntariamente fez parte, me faz querer brindar com o adolescente que já fui e questioná-lo sobre suas opiniões a respeito de música e de cinema. Talvez aquele rapazote dos anos 1980 tenha alguma coisa a ensinar ao jornalista cinquentão do ano 2023.

P.S: uma curiosidade sobre “Blow Up”: tem várias participações especiais, algumas não creditadas. As cantoras Jane Birkin (que se casaria com Serge Gainsbourg) e Gillian Hills, ao lado da modelo Verushka são citadas no elenco. Além dos Yardbirds, o escritor Julio Cortázar (no papel de um mendigo) também faz uma ponta não creditada.

Jeff Beck, com “The Final Peace”
Trecho do filme “Blow Up”, com participação dos Yardbirds (banda de Jeff Beck e Jimmy Page em 1966)

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