Um meme que circula na internet mostra a jornalista Miriam Leitão levando uma invertida do economista Roberto Campos no programa Roda Viva. Mas trata-se de uma montagem. Alguém editou a ordem em que o programa foi gravado para dar a impressão de que o grande mentor do liberalismo brasileiro deu uma resposta atravessada à colunista do jornal “O Globo”.
A ordem correta é a seguinte.
O âncora Jorge Escosteguy inicia o programa com a seguinte pergunta: “Em qual dessas categorias o senhor se enquadraria: pessimista, otimista, cínico ou paranoico?”. Campos responde o seguinte: “Sou um realista. Um realista é um otimista bem-informado”.
Ele fala um pouco mais sobre como vê o Brasil de hoje e arremata:
– Chega-se à conclusão de que estamos na terceira categoria dos povos aos quais se referia [o chanceler alemão Otto Von] Bismarck. O chanceler de ferro classificava os povos em três grupos; aqueles que aprendem com a experiência alheia – são os povos inteligentes; os medíocres são aqueles que aprendem com sua própria experiência; e, em terceiro lugar, há os idiotas – aqueles que não aprendem. Eu receio que nós não estejamos na primeira categoria.
Logo em seguida, aparece Miriam Leitão, dizendo o seguinte:
– O senhor não tem razão nenhuma para estar melancólico ou amargurado. O senhor sabe que eu vim de avião agora do Rio de Janeiro e do meu lado sentou um rapaz de 24 anos (eu fiz questão de perguntar a idade dele). Ele trabalha no Banco Pactual e me perguntou o que eu iria fazer em São Paulo. Respondi que viria entrevistar o deputado Roberto Campos. Ele disse, então: “É o meu guru”. Aí, eu pensei o seguinte: a minha geração não gostava nem um pouco do senhor. Dizia que o senhor era o “Bob Fields”. Então, eu pensei que a primeira pergunta que eu tenho de fazer a ele é: o senhor acha que venceu, por exemplo, a briga com a minha geração?
A resposta de Campos: “O [escritor francês André] Malraux dizia, em um ímpeto de vaidade, que o mundo estava cada vez mais parecido com os livros dele. Eu diria que o mundo está cada vez mais parecido com as minhas ideias. Apenas esse reconhecimento chegou tarde, quando estou quase gagá”.
Os dois personagens históricos citados por Campos nos brindaram ao longo de suas vidas com frases espirituosas e, ao mesmo tempo, certeiras e venenosas. São máximas que precisam ser relembradas. A primeira a ser recordada é de Bismarck: “As pessoas nunca mentem tanto quanto antes de uma eleição, durante uma guerra ou depois de uma pescaria”. A segunda é de Malraux: “O comunismo destrói a democracia – mas a democracia também pode destruir o comunismo”.
O próprio Campos também produziu frases inesquecíveis, que precisam ser lembradas nesses tempos atuais, nos quais o liberalismo parece ser uma palavra proibida nas altas rodas de Brasília.
Vamos a algumas pérolas de sabedoria:
“Para as esquerdas brasileiras, o socialismo não fracassou; é apenas um sucesso mal explicado.”
“Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava distribuir. Foi fatal. Os socialistas nunca mais entenderam a escassez.”
“Fui um bom profeta. Pelo menos, melhor que Marx. Ele previra o colapso do capitalismo; eu previ o contrário, o fracasso do socialismo.”
“Sou chamado a responder rotineiramente a duas perguntas. A primeira é ‘haverá saída para o Brasil?’. A segunda é ‘o que fazer?’. Respondo àquela dizendo que há três saídas: o aeroporto do Galeão, o de Cumbica e o liberalismo. A resposta à segunda pergunta é aprendermos de recentes experiências alheias.”
“A mágica agora é o denuncismo do ‘pega corrupto’. Esquecemos as razões profundas da corrupção, a falência múltipla do Estado, obsoleto, corporativo, ocupado por interesses espúrios, cuja ineficiência tem por maiores vítimas, os pobres e indefesos.”
“O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele pode nos dar é sempre menos do que nos pode tirar.”
“O mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes”
Roberto Campos é uma voz de direita que faz falta nos dias de hoje, quando inteligência é mercadoria escassa no mundo político.