O cineasta Luís Buñuel, um dos papas do surrealismo, dizia o seguinte sobre envelhecer: “Idade é algo que não importa – a não ser que você seja um queijo”. A ironia de Buñuel, que trabalhou até o último dia de vida, nos mostra que só sentiremos o peso dos anos sobre nossa mente se permitirmos que isso ocorra (já em relação ao corpo, é outra coisa…). Mas, como vamos nos manter jovens de espírito quando temos uma verdadeira rodovia atrás de nós, com experiência para dar e vender?
É difícil entrar neste tipo de assunto sem soar como alguém que é dono da verdade. Portanto, os tópicos de discussão abaixo são frutos de minha experiência e funcionaram para mim. Podem ou não ter serventia para os outros. Mas, na pior das hipóteses, servem como tema de para uma conversa divertida com os amigos.
O ponto de partida para essa jornada é não se apegar a situações, coisas ou pessoas que nos façam mal. Como diria o escritor Herman Hesse, “muita gente acredita que o apego ao passado nos faz fortes; mas, às vezes, a verdadeira força está em deixar este passado para trás”. Andar com leveza em direção ao futuro, largando as nossas bagagens pesadas pelo caminho, traz clareza às ideias. Com um olhar cristalino e uma mentalidade aberta a novas experiências, podemos nos conservar mais motivados por mais tempo (se esse texto estiver soando como um manual de autoajuda para coroas, reclame no espaço reservado aos comentários, OK?).
Nos últimos meses, tenho refletido muito sobre a vida – especialmente porque a pandemia levou alguns amigos, além de amigos de amigos. Quando percebemos nossa fragilidade como seres humanos, começamos a pensar se é possível melhorar o cotidiano e retirar mais de nossa rotina.
Diante dessas reflexões, selecionei três lições significativas, que pretendo tentar (ênfase em “tentar”) seguir nos próximos anos.
Com um espírito mais leve, é possível perceber algo importantíssimo – que você não vai conseguir resolver todos os problemas do mundo. De todos os nossos aborrecimentos diários, há apenas uma pequena fração que pode ser resolvida unicamente por nós. Outro pequeno pedaço vai precisar da colaboração de outras pessoas, mas continua em nossa órbita. A maioria dos obstáculos, porém, tem uma complexidade maior e não será solucionada por você. É preciso, nestas situações, uma dose extra de paciência. Como obtê-la? Cada um tem uma receita própria. Se você ainda não encontrou a sua, comece a procurá-la.
Aprendi, a duras penas, que o hedonismo exagerado traz mais problemas que soluções. Adoro charutos, bebidas alcóolicas e comer bem. Durante a pandemia, exagerei pesado nestes três quesitos. Por isso, o corpo reclamou. Desde o final de outubro, estou tentando resolver certos apuros que vieram dos excessos – e sei que esse processo não será rápido e vai demorar algum tempo para trazer resultados concretos.
Por fim, essa última lição parece mais com um desafio: como manter o otimismo em pé quando se construiu um grande ceticismo ao longo de toda a vida?
A experiência nos traz uma sabedoria utilíssima. Sabemos de antemão (ou temos a ilusão), pelo que passamos no passado, o que pode ou não pode dar certo. Mas existe uma linha tênue entre o indivíduo tarimbado e aquele que é pessimista porque viu vários fracassos diante de si.
Como é possível se despir do passado e ter uma atitude totalmente positiva? Parece impossível e talvez seja. Mas precisamos colocar o ceticismo em seu devido lugar e não o deixar ditar o nosso comportamento. Se seguirmos nossa vida sendo céticos, não duraremos muito. Ou não vamos querer ficar aqui por tanto tempo.