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Lizzie Bravo, a brasileira que cantou com os Beatles

Elizabeth Villas-Bôas Bravo ouviu os Beatles pela primeira vez em 1964. E, ao escutar a canção “Dizzy Miss Lizzy”, auto apelidou-se de Lizzie. Em fevereiro de 1967, com quinze anos, ganhou dos pais uma viagem a Londres, para onde foi com uma amiga. Chegando lá, seguiu direto para a porta dos estúdios da EMI, que ficariam imortalizados com o nome da rua onde ficavam: Abbey Road.

Lizzie e outras adolescentes passaram vários meses em frente à casa de Paul McCartney, na Cavendish Avenue, ou ao estúdio. De tanto vê-las, os quatro rapazes de Liverpool já sabiam seus nomes e eram educados com todas.

Em fevereiro de 1968, Lizzie, uma amiga chamada Gayleen Pease e outras meninas estavam à noite em frente ao estúdio. De repente, Paul abriu a porta e foi em direção a elas. Sem rodeios, perguntou se alguma das garotas conseguiria segurar uma nota alta. Lizzie e Gayleen levantaram a mão e Paul as levou para dentro.

Ele e John mostraram a canção “Across the Universe” e pediram que elas fizessem “backing vocals” no refrão (“Nothing’s gonna change my world”). Ela dividiu o microfone com John e Gayleen com Paul. Um tanto intimidada pela proximidade do ídolo, Lizzie ficou um pouco longe do microfone e teve de ouvir John a chamando para “mais perto” duas vezes.

“Ficou um clima legal, foi gostoso. Não tirei a minha câmera da bolsa para fotografar, não pedi autógrafo, todas aquelas coisas que eu fazia no dia a dia, porque eu tive consciência de que aquele era um momento único. Eu estava participando de uma gravação com os quatro Beatles ao mesmo tempo, com todo mundo tocando ao vivo”, disse Lizzie em um depoimento à imprensa.

Lizzie ficaria na Inglaterra até 1970, quando voltou ao Rio de Janeiro e passou a trabalhar como música e como fotógrafa. Ele se casou com o cantor e compositor Zé Rodrix, com quem teve uma filha, Marya Bravo. Ela foi imortalizada em uma canção de Rodrix, conhecida nacionalmente pela gravação de Elis Regina: Lizzie é a tal “esperança de óculos” de “Casa no Campo”.

Soube da história dela ainda garoto. Dez anos atrás, a encontrei nas redes sociais e travamos alguns diálogos hilariantes por mensagens. Marcamos de nos encontrar algumas vezes, mas o tal encontro nunca aconteceu – sempre por conta da minha agenda.

Infelizmente, nós nunca nos falaremos ao vivo, pelo menos não neste plano de existência. Ela morreu no dia 5 de outubro de 2022 (ou seja, sua morte completou um ano nesta semana). Lizzie deve estar se divertindo à beça com John Lennon e George Harisson no andar de cima. Os dois bem que poderiam fazer uma jam session, na qual ela cantaria “Dizzie Miss Lizzy” com Larry Williams, o autor desse clássico do rock’n’roll.

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