O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou neste terceiro mandato uma disposição inegável para negar a realidade no cenário econômico. Ele, por exemplo, ficou pregando a queda dos juros sem que a inflação estivesse totalmente domada desde o início do mandato. E, depois, passou a questionar frequentemente as necessidades impostas pela responsabilidade fiscal em seu governo – mesmo sabendo os efeitos nefastos que gastos públicos desenfreados podem trazer.
Essa realidade paralela vivida por Lula saiu do cenário macroeconômico e chegou à política, tentando tapar o sol com a peneira em relação às eleições venezuelanas. Minimizou um episódio que é gravíssimo para os preceitos democráticos e tenta se manter no muro para não atacar um irmão de armas ideológicas, o ditador Nicolás Maduro.
Ao preservar Maduro de críticas, o presidente criou um racha no governo (e o PT, que havia reconhecido os resultados fraudulentos na Venezuela, também se dividiu). A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse: “Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, [a Venezuela] não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário”.
“Um regime democrático pressupõe que as eleições são livres, que os sistemas são transparentes, que não haja nenhuma forma de perseguição política ou tentativa de inviabilizar com que os diferentes segmentos da sociedade, que legitimamente têm o direito de pleitear, cheguem ao poder”, completou a ministra Marina. “Que não venham a sofrer qualquer tipo de constrangimento ou impedimento”.
De fato, o ditador Maduro conseguiu anular candidaturas da oposição, atacar adversários e, agora, reprime protestos de forma virulenta e covarde. Já são onze mortos pela repressão e mais de mil oposicionistas na cadeia. Esse processo nada tem de normal, ao contrário do que sugeriu o presidente Lula, e precisa ser condenado com veemência por líderes políticos que prezam a democracia.
O editorial do jornal “Folha de S. Paulo”, visto pelos conservadores como uma publicação esquerdista, registrou o seguinte na edição de ontem: “Os descontentes, segundo a cândida recomendação do petista, devem recorrer à Justiça – num país em que até o Parlamento teve seus poderes esvaziados, sete anos atrás, após uma vitória oposicionista no pleito legislativo. […] Infelizmente, o descaramento de Maduro e a pusilanimidade do presidente brasileiro parecem nos reservar mais vergonhas”.
O que dizem os dicionários sobre “pusilanimidade”? Há duas definições. A primeira: “fraqueza de ânimo, falta de energia, de firmeza, de decisão”. A outra: “característica ou condição do que é pusilânime”.
E o que vem a ser um pusilânime? Segundo os linguistas, um indivíduo “covarde, medroso, fraco”.