Um artigo publicado há poucos dias na Folha de S. Paulo me chamou a atenção. De autoria de Natália Beauty (imagem), empreendedora do setor de beleza, o título era sugestivo: “Ser de direita e mulher é o novo pecado capital, mas quem ganha com isso?”. O texto é devastador e põe o dedo em uma ferida exposta — o movimento feminista não está acima das ideologias políticas.
“Eu nunca imaginei que ser mulher e ser de direita me tornaria um alvo. Cresci ouvindo que o feminismo lutava por todas nós, que estávamos juntas contra qualquer forma de opressão. Mas a verdade bateu na minha cara quando percebi que essa sororidade tinha um asterisco.
A primeira vez que senti isso foi quando comecei a falar abertamente sobre meu posicionamento político. Não ataquei ninguém, não diminuí conquistas femininas, apenas me declarei uma mulher empreendedora, que acredita no mérito e no esforço individual. Foi o suficiente para ser chamada de alienada, vendida e até de “cavalinha do patriarcado” – um termo tão machista quanto os que dizem combater.
E aí vem a pergunta: por que a mulher que pensa diferente se torna inimiga?
Se o discurso é sobre liberdade, por que essa liberdade só vale se você repete a cartilha? Ser mulher nunca foi sinônimo de pensar igual. Mulheres têm suas histórias, valores, crenças. Mas dentro de certos círculos, parece que só há um jeito aceitável de ser mulher: aquele em que você precisa odiar o capitalismo, tratar homens como vilões e enxergar o empreendedorismo como exploração”.
Nos Estados Unidos, uma discussão parecida também tomou conta das redes sociais dias atrás, depois que a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, criticou abertamente a chamada cultura “woke” e foi rebatida pela atriz Whoopi Goldberg durante o programa “The View”.
Whoopi afirmou: “Ela disse que ‘não vai ter cultura woke aqui’. Deixe-me explicar uma coisa: sem essa cultura ‘woke’, você talvez não tivesse esse trabalho. Porque as mulheres não eram convidadas para essa mesa. Mulheres não eram convidadas para muitas mesas nessa nação. A razão pela qual nós lutamos e ralamos foi para ter certeza de que você não ia ter que se preocupar com isso”.
Bem, Karoline não é a primeira mulher a ocupar esse cargo. Dee Dee Myers, na administração de Bill Clinton, foi a pioneira nessa posição em 1993, muito antes de o termo “woke” ser cunhado entre os americanos. De lá para cá, tivemos seis mulheres como secretárias de imprensa na Casa Branca entre Myers e Leavitt: Dana Perino, Sarah Sanders, Stephanie Grisham, Kayleigh McEnany, Jen Psaki, Karine Jean-Pierre (a única negra da lista). Já que estamos falando de porta-vozes da Casa Branca, é preciso destacar um detalhe interessante: nos oito anos de Barack Obama, três homens ocuparam essa posição. Foi o único mandato, desde 1993, a não ter pelo menos uma mulher neste posto.
Portanto, não se pode dizer que foi a pressão “woke” que colocou uma mulher como Porta-voz da Casa Branca, uma vez que o feminismo é uma luta muito anterior, assim como a contra o racismo.
No fundo, Leavitt sofre críticas por ser uma mulher com destaque em um governo conservador – especialmente por ser jovem (27 anos). Algo semelhante ocorre com Natália Beauty.
Direita e esquerda, “wokes” e conservadores, jovens e idosos, brancos e negros – todos deveriam se unir contra preconceitos descabidos e anacrônicos. Não importa a ideologia política: o machismo precisa ser combatido continuamente pela sociedade como um todo, pois interrompe a progressão da carreira de mulheres talentosas e imprime feridas emocionais em muitas representantes do sexo feminino. Isso não pode continuar a acontecer, assim como não faz sentido discriminar alguém nessa luta contra a misoginia por causa de sua posição política.
Estamos no Século 21. Essa briga deve unir a todos – e não provocar cisões e rachaduras entre o gênero feminino. Lembremos: o machismo também existe em regimes socialistas e não tem a ver com a ideologia de quem carrega preconceitos ancestrais.