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Música é coisa de jovem?

Este ano completo uma idade que, anos atrás, seria qualificada como o início inevitável da velhice. A curva do Cabo da Boa Esperança. O início do fim. “Um naufrágio”, como diria Charles de Gaulle. Logo que o ano novo começou, fiz um balanço das músicas que baixei em 2022. E percebi um fenômeno interessante: de cada dez canções, oito eram antigas; uma era regravação de um sucesso do passado; e apenas uma era atual.

Fiquei intrigado. Sempre gostei de música. Aliás, me orgulhava disso. Quando ficava fã de uma banda, por exemplo, buscava todas as informações que podia sobre os integrantes – isso em uma época na qual o Google ainda não tinha sido inventado. Comecei a me questionar: quando é que perdi interesse pelas músicas atuais?

Cheguei à conclusão de que foi por volta dos quarenta e cinco anos de idade. Passei a ser um ouvinte de flashbacks, alternando estilos para não enjoar de um tipo específico de música. Mas passei a ser cada vez menos surpreendido por novos sons, novas vozes e novas composições.

Meu comportamento até pode ser justificado pela grande capacidade criativa dos músicos das décadas de 1960, 1970 e 1980. Mas percebo que a geração da minha filha segue seus ídolos com a mesma sofreguidão que sentia durante a minha adolescência. Ela, por exemplo, é fã de Taylor Swift. Conhece todos os álbuns e sabe as histórias que motivaram suas canções favoritas (nisso, ela se parece muito comigo). E fica entusiasmada quando ouve uma música nova no rádio – exatamente como eu ficava.

Diante de tudo isso, me questionei: música é coisa de jovem? Quando envelhecemos ficamos fadados a escutar apenas flashbacks?

Bem, a indústria musical passou a mirar os jovens desde que Elvis Presley explodiu nas paradas mundiais. Isso também ocorreu na década seguinte com os Beatles e, nos anos 1970, com Elton John. Nos anos 1980, o destaque foi Madonna – e por aí vai. Quando me tornei um adulto, passei a ouvir mais estações de notícias do que emissoras de música e perdi o contato com o que os jovens escutam.

Nos últimos anos, porém, toda a vez que minha filha entra no carro pede para ouvir sua estação de rádio favorita. E, assim, passei a acompanhar o gosto musical dela. Mas não é o tipo de música que ouço quando estou sozinho.

Fico ouvindo meu set de canções. Mas, ultimamente, aciono o comando que escolhe aleatoriamente as faixas do iTunes (uma invenção que devo ao gênio criativo de Steve Jobs). Com isso, escuto as canções menos óbvias de um disco que conheço – e vou variando um pouco o repertório.

Gostaria que criassem um aplicativo novo, algo que mostrasse aos fãs do Led Zeppelin, por exemplo, bandas que foram influenciadas por Robert Plant e Jimmy Page e poderiam agradar aos usuários. A Apple bem que tentou fazer algo do gênero, com o Genius, mas nunca funcionou para mim.

Há poucos dias, no entanto, fui a um bar à beira da praia, que tinha um deejay tocando ao vivo. Me peguei gostando muito de uma canção que ele tinha escolhido – e fui perguntar quem estava tocando aquela música. Era uma banda de acid jazz fundada em 1995, mas atuante até os dias de hoje, chamada “Thievery Corporation”.  A canção se chamava “Sweet Tides” e a comprei imediatamente. A gravação não é nova. Seu lançamento foi em 2010. Mas é melhor do que só escutar músicas de 1982 ou 1974.

É, talvez ainda exista salvação para mim – pelo menos no quesito musical. Tenho um exemplo a seguir: o meu amigo Saul Sabbá, que resolveu ser deejay quando muitos estão pensando em aposentadoria. Mas Saulzinho, uma força da natureza, não pára nunca. E abraçou sua nova carreira com elegância e competência. Quem sabe eu não faço a mesma coisa daqui a alguns anos…

Thievery Corporation, com “Sweet Tides”

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Comentários

Respostas de 2

  1. Pois é. Eu volto e meia me pego com essa dúvida.
    Semana passada levei um susto ao saber que existe um tal de Bruno Mars, adorado pelos jovens. Vou ficar mais ligado.

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