Nesta semana, duas empresas pioneiras em seus setores tiveram de enfrentar uma dura realidade: elas deixaram de ser as marcas preferidas dos consumidores, apesar de praticamente terem inventado os mercados nos quais atuam.
A Apple, por exemplo, perdeu para a Samsung a liderança global na venda de smartphones no primeiro trimestre de 2024. Segundo pesquisa da International Data Corporation, as vendas da Apple caíram 10% e chegaram a 50,1 milhões de unidades. A Samsung, por sua vez, vendeu 60,1 milhões de aparelhos e se consolidou no primeiro lugar. Ocorre que a empresa coreana também teve uma queda em seu faturamento, só que de apenas 1%.
A grande mexida nesse mercado é a rápida ascensão de outros fabricantes. A Xiaomi viu suas vendas crescerem 34% e a Transsion teve um aumento de 85 % no faturamento (essa indústria, com as marcas Tecno, Itel e Infinix, é a que mais vende na África). São duas empresas chinesas que estão crescendo sem parar.
No mercado de automóveis elétricos, outro gigante piscou: a Tesla, que praticamente inventou esse segmento. A empresa anunciou que vai demitir 10% de sua força de trabalho mundial em função de sua performance junto aos consumidores. Segundo o Jornal do Carro, a Tesla perdeu o posto de maior montadora de elétricos para a chinesa BYD em 2023. Os chineses produziram 1,6 milhão de veículos movidos exclusivamente a bateria, batendo a empresa de Elon Musk em 41.000 unidades. Mas o problema da Tesla não se resume à BYD ou outras montadoras chinesas, como a GWM. Nomes tradicionais do mercado automobilístico, como General Motors e Toyota, investiram pesado nesse setor. O resultado desse movimento é que as ações da Tesla caíram 33% desde o início do ano. Os papéis da GM, em compensação, subiram 45% (e os da Toyota, 20%).
Por trás do sucesso dos concorrentes de Tesla e Apple está a estagnação de ideias das companhias pioneiras. Os produtos das duas empresas nasceram sob a égide da inovação e rapidamente foram incorporando funções revolucionárias e inexistentes na concorrência. No caso da Apple, a morte de Steve Jobs foi crucial para que a empresa perdesse a pegada inovadora; já na Tesla, pode-se dizer que Elon Musk é um gênio de processos, mas não de criação – além de dividir seu tempo útil em outros empreendimentos, como SpaceX e a rede social X.
Inovação e criatividade são fatores importantes para se manter na liderança. E a Apple perdeu isso. Será que a companhia deixaria escapar a liderança na venda de smartphones se Jobs estivesse vivo? Dificilmente. O fundador da Apple partia de uma ideia sem saber exatamente como iria viabilizá-la. Foi assim como a tela touchscreen, que revolucionou esse mercado. Ele primeiro teve o insight e, depois, mandou o time técnico se virar para torná-lo realidade. Desde sua partida, porém, não surgiu ninguém na empresa que possa criar “features” que encantam consumidores ou inventar novos paradigmas tecnológicos. Por enquanto, os celulares da Apple e os da concorrência estão mais ou menos no mesmo nível de evolução técnica. Mas e se surgir um gênio criativo entre os funcionários da concorrência? O legado de Jobs pode desaparecer. Duvidam? Lembrem-se do que aconteceu com a Nokia e a Motorola. Antes do iPhone, essas era as marcas mais vendidas do mercado. Onde estão elas agora?
Neste mundo tecnológico, o Google é um exemplo a ser estudado. Quando nasceu, apenas como ferramenta de buscas, já havia pelo menos dois grandes nomes neste mercado: Yahoo e Alta Vista. Com o tempo, o Google tomou a liderança, mas criou novos produtos e praticamente dominou o negócio de publicidade online. Mas também investiu em novas tecnologias, além de ter uma agilidade tremenda para se recuperar em terrenos que têm a liderança da concorrência.
Essa é a verdadeira receita de sucesso neste Século 21: uma combinação de tecnologia e criatividade, dando ao consumidor aquilo que ele deseja sem ainda saber. O único problema dessa equação é que o cliente é fiel à inovação e não mais às marcas. Por isso, fique esperto: sem inovar constantemente, você estará fadado ao esquecimento e ao ostracismo.