Uma nota publicada ontem na coluna do jornalista Lauro Jardim chamou a atenção de muitos executivos: “O conselho de administração de uma grande empresa brasileira de alcance nacional e um faturamento acima de R$ 1 bilhão está às voltas com uma situação delicada: o CEO está namorando uma diretora, o que pelas regras de compliance não seria permitido. O colegiado está dividido quanto a que providências tomar”.
Façamos um teste: entre os casais de seu círculo de amizades, quantos se conheceram em um ambiente de trabalho? Mais que isso: quantos foram colegas de empresa?
No meu caso em particular, o número chega a 50 %. Mas, se contabilizar uniões anteriores, talvez este índice seja ainda maior. Faço parte de uma geração na qual o relacionamento amoroso entre funcionários de uma mesma empresa era considerado algo comum – e, em muitas vezes, até juntando chefias e subordinados.
Ocorre que, nessa mesma época, também tivemos inúmeros casos de assédio, geralmente perpetrados por chefes misóginos e machistas. Conforme essa questão entrou no radar do mundo corporativo, muitas empresas resolveram proibir o namoro entre seu quadro de colaboradores. Mas o que uma coisa tem a ver com outra?
O assédio se configura quando alguém força a barra – e devemos combater esse comportamento odioso com todas as nossas forças. Mas um namoro raramente surge quando existe um assediador na equação amorosa.
Por isso, fica a pergunta: uma empresa tem o direito de proibir que seus funcionários namorem entre si?
Passamos boa parte de nosso tempo no trabalho e é inevitável que tenhamos amigos entre nossos colegas (e alguns inimigos também). Dentro deste ambiente, é bem possível que as pessoas se envolvam de forma afetiva. Isso pode afetar o desempenho de alguém? Talvez no início desta relação. Mas isso também poderia ocorrer se o funcionário se apaixonasse por alguém fora do escritório.
Toda empresa tem regras e um código de conduta, mesmo que não oficial. Mas quantas dessas normas invadem a vida pessoal do staff? Em vários casos, nenhuma. Por que, então, há empresas que se preocupam tanto com os relacionamentos entre colaboradores?
Muitas companhias podem ser responsabilizadas pelo comportamento de seus diretores. Por isso, preferem endurecer as regras e tentar regulamentar a vida amorosa dos funcionários. Mas isto será justo? Talvez não.
Particularmente, me sinto desconfortável quando qualquer estrutura de poder (Estado ou ente privado) dita regras para interferir no livre arbítrio do ser humano. Quer namorar o colega ou a colega? Vá à luta. Só não vale se comportar de forma inadequada se as coisas não rolarem como você gostaria – especialmente nos momentos de rejeição. Assim, vai aqui o meu recado ao conselho de administração que irá deliberar sobre o CEO que namora uma diretora: pessoal, não se meta na vida dos outros. Deixe o casal viver a vida deles. Se a relação dos dois interferir na performance da dupla, entrem em campo. Caso contrário, deixem o casal de pombinhos em paz.