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No espírito natalino: vamos lembrar de Bob Geldof e “USA For Africa”

Nesta semana, estava olhando a minha coleção de discos de vinil, à procura de algo que tivesse a ver com o espírito natalino. Entre os LPs, não achei nada. Mas me lembrei de um compacto simples, comprado ao final de 1984, que estava bem escondido, no fundo do armário. O nome da canção? “Do They Know it’s Christmas”, gravada por um grupo chamado Band-Aid. Essa gravação, uma iniciativa do cantor Bob Geldof, foi inspirada por uma série de reportagens da BBC sobre a fome na Etiópia.

Geldof e Midge Ure, da banda Ultravox, compuseram o tema e começaram a caçar seus colegas do rock britânico para gravar a música. Na primeira semana, colocou no barco a banda Duran Duran, que vivia seu auge. Também chamou Sting, que topou imediatamente. E encontrou Gary Kemp, guitarrista do Spandau Ballet, em uma loja de antiguidades. O convenceu a trazer todo o grupo para o estúdio em cinco minutos de bate-papo. Com esse cacife na mão, ele e Ure ligaram para outros amigos e formaram uma superbanda.

Alguns dos membros dessa “all-star band”: Bono e Adam Clayton (U2); Phil Collins; Paul Young; Siobhan Fahey, Keren Woodward e Sara Dallin (Bananarama); Jody Whatley; Robert Bell e James Taylor (Kool and the Gang); Boy George e Jon Moss (Culture Club).

O esforço pela arrecadação de fundos culminou com o show “Live Aid”, que teve dois estágios; um no estádio de Wembley, na Inglaterra e outro no JFK Stadium, na Filadélfia. Phil Collins conseguiu participar dos dois shows. Fez uma participação logo no início do evento na Inglaterra e embarcou em um Concorde para tocar nos Estados Unidos.

A iniciativa de Geldof sensibilizou o ator Harry Bellafonte, que conversou com o amigo Ken Dragen, um grande produtor de televisão nos Estados Unidos, e o convenceu de criar algo parecido naquele lado do Atlântico. Dragen trouxe para o barco Lionel Richie e Quincy Jones – e os dois trouxeram Michael Jackson, depois de tentarem falar com Stevie Wonder, sem sucesso (sim, MJ não foi a primeira opção dos produtores). Richie e Jackson, então, escreveram “We Are the World” e foram adiante, para produzir um vídeo semelhante ao rodado na Inglaterra, em novembro de 1984.

Uma grande diferença, no entanto, pode ser vista. Enquanto o vídeo inglês foi feito quase sem recursos, o americano era uma superprodução hollywoodiana. E é divertido comparar o carrinho que leva ao estúdio as cantoras da banda Bananarama com as limusines que deixam as estrelas americanas na gravação da banda estelar, que foi batizada de “USA for Africa”.

A canção, conhecida por todos os habitantes do planeta Terra, foi um tremendo sucesso, ainda maior que a iniciativa inglesa. A ordem de entrada dos solos dessa música é a seguinte:

+ Lionel Richie

+ Stevie Wonder

+ Paul Simon

+ Kenny Rogers

+ James Ingram

+ Tina Turner

+ Billy Joel

+ Michael Jackson

+ Diana Ross

+ Dionne Warwick

+ Willie Nelson

+ Al Jarreau

+ Bruce Springsteen

+ Kenny Loggins

+ Steve Perry

+ Daryl Hall

+ Huey Lewis

+ Cyndi Lauper

+ Kim Carnes

+ Bob Dylan

+ Ray Charles

Além dessa turma, cantam no coro os seguintes artistas: Dan Aykroyd, Harry Belafonte, Lindsey Buckingham, Mario Cipollina, Johnny Colla, Sheila E., Bob Geldof, Bill Gibson, Chris Hayes, Sean Hopper, Jackie Jackson, La Toya Jackson, Marlon Jackson, Randy Jackson, Tito Jackson, Waylon Jennings, Bette Midler, John Oates, Jeffrey Osborne, Anita Pointer, June Pointer, Ruth Pointer e Smokey Robinson.

No final, a gravação de “Do They Know…” arrecadou US$ 24 milhões e o show “Live Aid” levantou US$ 127 milhões. Já o projeto americano levantou US$ 100 milhões. Além do aspecto humanitário, as duas músicas entraram para a cultura pop, especialmente a composta por Lionel Richie e Michael Jackson.

Mas as duas canções têm um enorme valor – o de emocionar e envolver totalmente seus ouvintes. A inglesa é mais elegante e menos óbvia; a americana, com maior apelo popular e um crescendo apoteótico no final, se transformou em um clássico pop (quem não se lembra da intervenção em contracantos de Bruce Springsteen?).

Infelizmente, não conseguimos resolver o problema da fome africana com esses projetos fabulosos. Quem sabe em 2023 não pensamos em algo que possa ter a participação de todos os continentes, para tentar erradicar a falta de alimentos com medidas consistentes, sem apenas apelar para o assistencialismo? Ajudar a aplacar a fome e tentar erradicá-la com a criação de mecanismos sustentáveis deveria estar na agenda de todos os grandes líderes mundiais. É como disse o jornalista Michael Buerk, autor das reportagens sobre a Etiópia que sensibilizaram Bob Geldof 38 anos atrás: “a fome é a coisa mais parecida com o inferno aqui na Terra”.

O vídeo da canção “Do They Know it’s Christmas?”
A versão ao vivo, com vocal de David Bowie (note o entusiasmo de Freddie Mercury e Elton John)
USA For Africa, com “We Are the World”

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