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No supermercado, mais uma oferta: os flertes

Nos stories do Instagram, vejo rapidamente o que está acontecendo com meus amigos e com alguns desconhecidos que estão em minha rede. Entre um e outro registro, aparecem vários post patrocinados. Um deles me chamou a atenção nesta semana: trata-se da uma reportagem da revista Maire Claire, intitulada “Flerte à moda antiga”. O subtítulo é: “Por que as mulheres da geração Z estão voltando a procurar o amor fora dos aplicativos?”. Curioso, me debruço sobre o celular. E sigo o texto da postagem: “Neste mês, internautas se surpreenderam ao descobrir que espanhóis estavam buscando paquera em um lugar inusitado: o supermercado”.

Achei divertido. É que este fenômeno, aqui no Brasil, não é novo – e o registrei nas páginas da revista Época, quando a dirigi anos atrás. Naquele momento, tinha dois cronistas que se revezavam semanalmente nas páginas da publicação: Mario Prata e Maitê Proença. Um belo dia, porém, o Pratinha me mandou um e-mail dizendo que não iria mais colaborar com a revista, pois iria escrever uma novela para a TV Globo.

Diante disso, me sugeriu algumas pessoas para substituí-lo. Confesso que não fiquei entusiasmado com nenhum. Até que ele me provocou com essas linhas: “Agora, se você for mesmo macho, convide uma garota gaúcha, roqueira, que mora no Rio. O nome dela é Bíbi Da Pieve. Gênio”.

Antes de mais nada, desculpem o linguajar do meu amigo escritor. Esse e-mail (particular) foi enviado há vinte anos – e duvido que ele fosse utilizar essas palavras nos dias de hoje. Voltando: intrigado com a indicação do Pratinha, liguei para a moça e pedi para ver alguns manuscritos. No segundo parágrafo do primeiro texto, percebi que estava diante de uma autora de mão cheia. Ela estreou com uma crônica na qual dizia – lembremos: há vinte anos – que os supermercados eram o melhor lugar para paquerar. Vamos ler um trechinho, no qual ela falava de um amiga chamada Mariana:

Milhares de Marianas […] descobrirão, como eu descobri, que a mina de ouro está no mercado. O super. Mais precisamente, na prateleira dos congelados.

– É verdade! Conheci o Antônio nos congelados. Antigamente, eu me arrumava toda, e saía à noite. Tolice. Coisa de gente que não entende nada do assunto. Amadorismo! Assim que me profissionalizei, descobri o óbvio: eles estão nas prateleiras dos congelados. Estão todos ali, disponíveis… homens solteiros, homens separados, amantes dos microondas, afogando suas mágoas numa lasanha à bolonhesa… nada pode ser mais romântico.

Realmente, Mariana vê romantismo numa lasanha congelada. E vai publicar conselhos quentíssimos para as amigas que procuram um parceiro. Coisas do tipo: passe um batom, tome uma vitamina C (para evitar o resfriado) e fique horas desfilando diante das portas mais geladas dos supermercados. Cedo ou tarde, aparece um Antônio, apressado, que vai empilhar nos braços algumas dúzias de lasanhas; aí, é só esbarrar nele. Sim, também você não vai esperar que o Antônio olhe para os lados, né?”.

Para quem dava gargalhadas com a série “A Grande Família”, uma informação importante: Bíbi foi autora dos roteiros das quatro últimas temporadas. Não sei se conheceu o marido no supermercado (é mãe de uma adolescente de dezessete anos, que estuda na mesma escola da minha filha), mas é dela, seguramente, o primeiro registro no Brasil de que as pessoas resolveram paquerar entre uma gôndola e outra.

Portanto, quando algum amigo (ou amiga) estiver na pista e quiser dicas de onde conhecer alguém, pode indicar sem medo o Pão de Açúcar, o Carrefour ou o St. Marché.

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