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Nossas memórias com as 1001 utilidades do bombril

Eu era bem pequeno e minha família tinha mudado de casa. Tudo foi arrumado e ligamos a TV – mas havia um problema com a antena externa. Minha mãe colocou uma antena portátil em cima do aparelho, mas a imagem continuava cheia de fantasmas (difícil explicar o que é isso para os jovens de hoje). Foi então que alguém sugeriu colocar uma palha de aço em cada extremidade das hastes metálicas que captavam a transmissão. Como que por milagre, a imagem ficou nítida e sem fantasmas.

Até então, nunca tinha percebido a existência do bombril. E, quando vi uma propaganda deste produto, entendi perfeitamente o que eles queriam dizer quando afirmavam que a palhinha tinha “1001 utilidades”. Ao longo do tempo, me acostumei à presença do bombril em casa, sendo usado para polir panelas, espalhar detergente nas louças, tirar ferrugem – enfim, fazer de tudo um pouco, justificando o slogan que aparecia estampado em sua embalagem.

Quando adolescente, tive uma namorada que morava no bairro paulistano do Novo Brooklin – mais especificamente, uma região cujo nome oficial é Cidade Monções. E o pai dela, uma vez, me disse que a primeira fábrica da Bombril tinha sido erguida a poucos quarteirões da casa dele, no final dos anos 1940.

De fato, o fundador da empresa, Roberto Sampaio Ferreira, abriu seu negócio em 1948, após receber uma máquina de extração de esponjas de lã de aço como pagamento de uma dívida. Ferreira, motivado por sua esposa, percebeu o potencial das palhas de aço e resolveu montar uma indústria para explorar um mercado inexistente naquele momento. Cresceu tanto que teve de se mudar do bairro, que já tinha se estabelecido como um polo residencial (depois, a região, com a avenida Luiz Carlos Berrini, atrairia hordas de escritórios).

Mais tarde, o bombril me seduziu pelos comerciais com o ator Carlos Moreno, que eu conhecia das peças humorísticas do grupo teatral Pod Minoga. A série de comerciais, que começou em 1978 e durou até 2019 (com alguns intervalos), mostrava um garoto-propaganda tímido e desajeitado e cativou não apenas quem consumia as palhas de aço. Essa campanha, criada pelo inesquecível Washington Olivetto, detém o recorde de longevidade no Guiness Book of Records e colecionou vários prêmios por conta do texto bem-humorado.

Nesta semana, a Bombril (empresa que fabrica a palha de aço e outros produtos de limpeza notórios, como o amaciante Mon Bijou) pediu recuperação, com dívidas de R$ 2,3 bilhões. Os administradores, no entanto, disseram que os débitos, em sua maioria, são referentes a impostos não recolhidos quando a companhia ficou nas mãos de outros controladores (voltaria à família Sampaio Ferreira em 2006). O pedido de RJ, assim, seria uma forma de proteger os resultados operacionais da empresa enquanto se encontra uma saída para os tributos vencidos. Vamos acompanhar o processo e ver como a empresa sairá dessa contenda.

Ao acompanhar o noticiário, fiquei curioso em saber se havia um pacote de bombril em casa. Verifiquei e não deu outra – o pacotinho amarelo estava na área de serviço. Pela data de fabricação, arrisquei um palpite: aquele bombril fora comprado em novembro do ano passado. Mas somente uma palhinha tinha sido usada desde então. Ou seja, os consumidores atuais talvez não usem mais o produto como nossos antepassados o fizeram.

Os novos tempos mudaram toda a nossa vida. E devem ter reduzido substancialmente as 1001 utilidades originais do bombril.

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