Existe uma diferença básica entre resistência e resiliência. As duas palavras têm origem no campo científico. Resistência, neste caso, significa a capacidade que uma força tem de se opor a outra. E resiliência? Esse termo define o nível de resistência de um material e sua capacidade de retornar ao estado normal. Ou seja, o resiliente é aquele que consegue resistir às pressões e voltar rapidamente à normalidade. Aquele que supera as adversidades e está pronto para outra. Ou quem se levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, como diz a canção.
Hoje, se fala muito em resiliência. Afinal, passamos por um momento de profunda transformação dentro das empresas e também dos mercados. A todo tempo, somos cobrados para resistir ao combate e avançar sem descanso. Mas, apesar de todo o “hype” em torno da palavra “resiliência”, as pessoas estão conseguindo ser resilientes?
Lembremos que o exercício da resiliência implica robustez e recuperação. Não é apenas aguentar o tranco, mas também ter a capacidade de retornar ao estado habitual, deixando as dificuldades para trás.
Diante disso, será que estamos sendo mesmo resilientes?
O mundo atual nos ensinou a nos defender e brigar. Somos imediatistas e perdemos as estribeiras rapidamente – e, muitas vezes, não largamos a disputa por nada. Mas isso é apenas resistir. Aqueles que brigam e utilizam com argumentos que beiram o mimimi, por exemplo. E os que se descontrolam instantaneamente em uma discussão? Podemos defini-los como resilientes? Talvez não.
Antes de mais nada, a busca da resiliência passa pelo aprimoramento de nossa capacidade de resistir e de nos superar. Para, então, retomarmos a normalidade e, revigorados, voltar ao campo de batalha.
No início da minha carreira, encarava todos os desafios com determinação. Mas foi somente aos 25 anos que entendi que não adianta apenas ficar em pé depois de uma sucessão de socos, ao estilo Rocky Balboa. Era preciso se recompor e também atacar. Ser resiliente.
Percebi, também nessa época, que havia um caminho para evoluir da resistência para a resiliência (embora, nessa fase, eu pensasse mais na palavra “superação”). Essa trilha era a da persistência, que muitos confundem com teimosia.
Para esticar a minha resistência, comecei a dividir minhas metas por trimestres. Pouco depois de completar 25 anos, recebi uma promoção importante (para se ter uma ideia, meus pares de redação tinham entre 35 e 45 anos). Me senti pressionado, mas fui estabelecendo metas trimestrais de melhora, todas palpáveis. Fui me fortalecendo aos poucos e ganhando motivação. Até que a energia necessária para resistir aos desafios daquele momento foi diminuindo. Com isso, tive como encarar metas mais ambiciosas, que era me preparar para ser um Publisher ou Diretor de Redação.
Percebi o quanto precisava de disciplina para elevar meus níveis de resistência e persistência, justamente para atingir a tal resiliência. Aos 36 anos, comecei a me preparar para correr longas distâncias, buscando disputar maratonas. O treinamento não é fácil – e, para atingir o condicionamento ideal, é necessária uma dedicação muito forte. No final, consegui e corri dos 37 aos 50 anos, quando fui diagnosticado com o desgaste na cartilagem do quadril (exatamente como o caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva). De lá para cá, passei por duas cirurgias, com a colocação de próteses, mas não me arrependo destes esforços físicos que tanto me ensinaram.
A disciplina que aprendi no esporte me ajudou a superar as adversidades e atingir a normalidade. Ser alguém resiliente me ajudou a superar disputas profissionais e a conquistar cargos importantes. Tudo isso, no entanto, era apenas a preparação para a minha atual vida de empreendedor, que é forjada no aço das superações diárias.
Por isso, me espanto quando as pessoas utilizam o termo “resiliência” quase casualmente, como se fosse algo que pudesse ser facilmente obtido. Olho ao meu redor e vejo muitas pessoas resistentes. Mas são poucos aqueles que de fato são resilientes, que buscam a superação o tempo todo.
E você, em que time está?