Pesquisa divulgada pela Transparência Internacional mostra que o Brasil ficou em 107º lugar no Índice de Percepção da Corrupção – a pior colocação obtida pelo país desde que o estudo começou a ser feito em 2012. Isso quer dizer, na prática, que os entrevistados brasileiros avaliam que há mais corrupção hoje do que no auge da Operação Lava jato, quando um sistema de propinas envolvendo o setor privado e autoridades foi desbaratado pela força-tarefa comandada na época pelo hoje senador Sergio Moro.
A Transparência Internacional compila pesquisas feitas junto a um grupo de cidadãos de 180 nações e estabelece uma pontuação de 0 a 100. Quanto menor a pontuação, pior o resultado. O Brasil obteve 34 pontos (foram 36 em 2023), diante de uma média mundial de 43 pontos. Entre os países do G-20, estamos à frente apenas do México e da Rússia
No entanto, o nível de corrupção no Brasil não deve estar superior ao dos tempos da Lava Jato. De lá para cá, alguns mecanismos de governança foram implementados para evitar fraudes e subornos e os órgãos de fiscalização ganharam novas ferramentas para investigar malfeitos.
De onde, então, vem essa percepção?
Em primeiro lugar, a reversão da maioria das condenações da Lava Jato trouxe para muitos brasileiros o entendimento de que o crime pode compensar no país. Corruptos confessos tiveram suas sentenças canceladas – e empresas que admitiram ter desembolsado propinas estão recorrendo à Justiça para reaver as multas pagas nos processos em que foram punidas.
Políticos que foram condenados no passado ganharam reabilitação. Alguns voltaram à cena pública, outros ensaiam seu retorno. Para piorar o quadro, o Centrão tenta enfraquecer a Lei da Ficha Limpa, diminuindo a inelegibilidade de oito para dois anos a quem for condenado em segunda instância. Esse disparate, inclusive, tem o apoio do novo presidente da Câmara, Hugo Motta, para quem oito anos, em política, é uma “eternidade”.
Um caso específico citado pelos entrevistados brasileiros foi o do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, mantido no cargo mesmo após o seu indiciamento pela Polícia Federal no início do governo. O ministro é investigado por corrupção passiva, fraude em licitação e organização criminosa. O silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema apareceu frequentemente nas entrevistas feitas pela TI.
O governo, evidentemente, não gostou nada deste resultado. O ministro da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho, ficou indignado com o resultado. “A Transparência Internacional dizer que a percepção da população aumenta porque o presidente não fala disso? De onde tiraram? O que tem de sério? É uma correlação, não tem casualidade, não tem nada, é conversa de boteco”, disparou.
Em 2019, porém, o ministro Alexandre Padilha usou a rede social para enaltecer esse mesmo estudo, que apontava uma queda de 17 posições no ranking durante o governo de Michel Temer. O ex-ministro Paulo Pimenta, em 2020, também utilizou os dados da Transparência Internacional para criticar o então governo Jair Bolsonaro. Na mesma ocasião, o PT soltou nota ressaltando o relatório da TI, que dizia existir um “desmanche institucional anticorrupção que o Brasil levou décadas para consolidar”.
Ou seja, o relatório dizia a verdade quando outros partidos estavam no poder. Hoje, com o PT alojado no Planalto, o estudo é “conversa de boteco”. Como diz o velho ditado, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. O velho adágio continua a explicar muitos fenômenos da política brasileira.