“Olhe bem, preste atenção/ Nada na mão, nesta também/ Nós temos mágicas para fazer/ Assim é a vida, olhe pra ver”. Essas estrofes são de autoria de José Bonifácio de Oliveira, o “Boni”, e dão início ao tema de um programa que hoje se torna cinquentenário: o Fantástico, um ícone das noites de domingo.
Muitos têm aversão à música-tema do programa, por associá-la ao término irremediável do fim de semana. Mas ela foi um sucesso enorme, até ser substituída por uma versão instrumental (o score é de autoria de Guto Graça Mello), que perdura até hoje.
Lembro exatamente do dia em que o Fantástico estreou. Antes dele, o horário nobre dominical era ocupado pelo programa “Só o Amor Constrói”, uma espécie de ‘Essa é sua Vida” modernizado para a época (a mesma fórmula seria utilizada por Fausto Silva para criar o quadro “Arquivo Confidencial”). O tom melodramático do programa, apresentado por Heron Domingues e Marisa Raja Gabaglia, era um convite para trocar de canal.
Depois de ouvir algumas queixas dos amigos sobre a chatice de seu programa dominical, Boni teve a ideia de produzir uma revista televisiva, com várias atrações e algum jornalismo, durante duas horas. Nascia, então, o Fantástico.
Naqueles anos setenta e durante boa parte dos anos 1980, a fórmula seria a mesma: uma grande reportagem, um perfil de alguém ligado ao entretenimento, uma reportagem de Hélio Costa, correspondente da TV Globo nos Estados Unidos (quase sempre falando sobre uma nova descoberta sobre a cura do câncer) e um número musical.
Os músicos passaram a ser uma referência fortíssima para a juventude. No início, havia apenas vídeos com cantores nacionais, produzidos pela própria Globo. Mas, com o tempo, clipes de atrações internacionais passaram a fazer parte da programação.
Nessa época, havia duas grandes plataformas de lançamentos para canções estrangeiras, além, evidentemente, das estações de rádio. Uma era a exibição da canção no Fantástico. A outra era fazer parte da trilha sonora dos comerciais do cigarro Hollywood.
Nesses vídeos exibidos em primeira mão no domingo, conheci “This Will Be”, de Natalie Cole, “Hotel California”, dos Eagles, e “Wuthering Heights”, de Kate Bush. Mais tarde, o programa não selecionava apenas grandes sucessos, mas procurava exibir também vídeos que tivessem algum tipo de atração visual. Foi o caso de “Shock the Monkey”, com Peter Gabriel, que mostrava o ex-vocalista do Genesis em uma produção espetacular para aquela época. Ainda não havia a MTV ou programas dedicados a clipes musicais. Portanto, para a minha geração, o Fantástico era a única fonte para conhecer novos intérpretes em primeira mão.
O Fantástico estreou na mesma semana em que foi cometido um dos sequestros mais famosos da criminologia brasileira: o sequestro do menino Carlos Ramires da Costa. Bonito, loiro e de cabelos compridos, Carlinhos foi abduzido por um homem que invadiu a residência de família, na zona sul carioca, e o levou embora, deixando um bilhete com erros de português no qual exigia um resgate de cem mil cruzeiros (um valor próximo a R$ 500.000 em dinheiro de hoje).
O caso foi coberto exaustivamente pelo programa ao longo de anos. Tudo indica que hoje, mais uma vez, essa história será revisitada na inevitável retrospectiva que será apresentada para comemorar esses cinquenta anos de vida – um dos programas mais longevos da televisão brasileira.
Meus parabéns ao Boni. Inventar uma fórmula que dura mais de cinquenta anos não é para qualquer um.
Uma resposta
Todas as grandes campanhas publicitárias começavam seus flights com a primeira inserção no Fantástico