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O inacreditável glamour da falsificação

“Sour grapes”, em inglês, quer dizer literalmente “uvas azedas”. Mas trata-se de uma expressão que denota a atitude de alguém que deseja algo que não pode ter e a despreza. Lembra da fábula da raposa e as uvas? Ela quer colher frutos que parecem suculentos e deliciosos, mas a parreira é muito alta. Sem conseguir as uvas, ela comenta que não as queria mesmo, pois estariam azedas. A moral dessa historieta é bastante difundida e quase todos nós a ouvimos quando crianças: “quem desdenha quer comprar”.

Ocorre que esse também é o título de um documentário lançado em 2016, sobre o indonésio Rudy Kurniawan, que foi preso em 2013 por falsificar vinhos refinados e caríssimo. Estima-se que ele tenha vendido quantidades industriais de garrafas falsificadas em leilões especializados (somente 12.000 em 2006).

Mas o que há de novo neste caso, que ocorreu há tanto tempo?

Kurniawan (nascido Zhen Wang Huang) ficou sete anos no xilindró e, após cinco meses sob custódia da Justiça americana, foi deportado para a Indonésia em 2020. Mas, no mês passado, voltou às manchetes. Uma jornalista especializada em enologia publicou um artigo contando que ele foi contratado para ser a atração de pelos menos dois banquetes proporcionados por um ricaço em Singapura. Sua missão? Falsificar, de propósito, vinhos caríssimos e fazer os convidados confrontar suas “criações” com os originais.

Em pelo menos uma dessas festas, o tal bilionário pediu que ele fizesse versões de rótulos aplaudidos como Romanée-Conti (1990), Petrus (1990), Domaine Jacques-Frederic Mugnier Le Musigny (1990) e Château Cheval Blanc (1982).

O método do falsário era simplesmente colocar o conteúdo de bebidas baratas em garrafas de rótulos consagrados pela crítica ou criar blends a partir de vinhos caros e de certa idade com outros menos votados. Ele repetiu o esquema em Singapura e surpreendentemente os convidados preferiram a versão falsa à verdadeira.

A especialista Maureen Downey, do site Winefraud.com, revelou que Kurniawan participou desses rega-bofes e ainda por cima obteve as anotações de um dos convidados. “Estamos experimentando novamente a mágica do conhecimento vinífero de Rudy”, escreveu esse participante, que se refere ao falsário como um “gênio vínico”.

No final, relata Downey, os convidados, em sua maioria, preferiram as versões falsificadas, pois “têm mais frescor”. A especialista ficou surpresa com a reentrada de Rudy Kurniawan no mundo do vinho, patrocinada por entusiastas que o conheceram em leilões realizados no passado. “Há pessoas que gostam de estar com gângsters”, disse ela. “É inacreditável para mim, mas esse pessoal está pagando pela companhia dele e também para que ele falsifique novamente vinhos consagrados”.

Pagar alguém que vendeu mais de US$ 100 milhões em produtos falsos é algo fora de propósito. Mas isso talvez mostre o quanto os valores da atual sociedade estão transfigurados – ou que vale tudo em nome de uma boa diversão.

A própria Downey pondera que essa atividade não é ilegal. Afinal, qualquer um pode misturar doses de cabernet com merlot e pinot noir. O problema é que, dependendo dos percentuais de mistura e da procedência da matéria-prima, o resultado final – tal qual a falsificação – também pode ser definido como uma atividade criminosa.

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