A primeira vez que experimentei um café foi aos dez anos de idade. Estava assistindo â novela das sete e um dos personagens pediu um cafezinho. Perguntei à minha mãe se tínhamos café em casa e tomei três xícaras, uma atrás da outra. Começava ali um caso de amor que dura até hoje. Aos vinte e três anos, essa relação mudou quando eu me confundi, na redação da revista Veja, e enchi meu copinho de plástico do lado da máquina que servia a bebida sem açúcar. Foi como se um novo mundo estivesse se abrindo à minha frente. Comecei a tomar café puro, sem adoçar, e nunca mais parei.
Trata-se de uma bebida intrigante, pois não é exatamente óbvia. Todos já ouviram a história de que suas propriedades revigorantes foram descobertas por um pastor que via suas ovelhas mais agitadas depois que comiam um fruto pequeno e vermelho de uma árvore. Mas vamos lembrar que alguém teve de ter a ideia de secar aquela frutinha, torrá-la, moê-la e misturar o pó com água quente. Não é exatamente um processo banal como juntar folhas ou raízes em H2O fervente, como é fazer um pouco de chá.
O café deve ter surgido de várias experimentações, de erros e acertos – e talvez por isso é que seja tão bom. Demorei muito tempo para descobrir que havia vários tipos de torra, assim como origens. Soube também depois de muito tempo que o terroir em que a planta cresce também interfere em seu sabor, assim como o ângulo do terreno no qual está a plantação.
Meu pó favorito é da marca americana Stumptown, que apresenta um blend de produtores africanos, sul-americanos e originários da América Central. A torra é suave e proporciona um aroma irresistível e um sabor marcante e suave. Lembra muito os sachês da Illy da década de 1990.
Hoje, é fácil encontrar expressos de boa qualidade em diversas cafeterias. Os restaurantes, porém, estão divididos entre Nespresso e 3 Corações. Há alguns, no entanto, que fogem do óbvio e oferecem marcas artesanais que são bem interessantes. O problema, neste caso, é encontrar um cafezinho feito em um máquina com a pressão bem regulada.
Nos anos 1990, era difícil encontrar um bom expresso. Um dos melhores da época era servido no balcão do Bar e Lanches Estadão, no centro paulistano. Aos poucos, porém, praticamente todos os restaurantes investiram em ter uma boa máquina de café – até que as grandes empresas passaram a dominar este mercado.
Nos Estados Unidos, não foi muito diferente. Nessa época, encontrava-se “espressos” (com “esse” em vez de “xis”) e capuccinos apenas em Nova York e em Los Angeles. Certa vez, em uma viagem pela região da Nova Inglaterra, parei para jantar na cidade de Plymouth, em Massachussets (onde os primeiros imigrantes britânicos chegaram para explorar o que viria a ser os Estados Unidos). Perguntei ao garçom se havia “espresso” no restaurante. Ele me perguntou o que era aquilo. Disse que era um café feito em uma máquina? “Aquelas com moedas?”, me questionou o rapaz.
Ao ver que aquela conversa não iria me levar a nenhum lugar, pedi a conta e fui embora para Boston – onde havia apenas dois restaurantes que serviam “espressos” e capuccinos. Dirigi uma hora para bebericar um café.
Mas valeu a pena.