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O nosso estresse de hoje será visto como algo leve no futuro?

É comum compararmos a nossa vida de hoje com a do passado – e olhar para trás com uma certa nostalgia, acreditando em um cotidiano muito mais calmo nas décadas que vieram antes da nossa. Quando observamos fotos antigas, com poucos carros nas ruas e pessoas elegantes se movimentando nas calçadas, é inevitável pensar que viver era bem mais fácil – e descomplicado – nos tempos de outrora.

Será isso mesmo?

Vejam o que Dale Carnegie (o autor do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”) escreveu em 1952: “Um dos comentários mais assustadores sobre o nosso sistema de vida atual é que metade dos leitos de hospitais é ocupada por pessoas atacadas de perturbações mentais e nervosas. E a causa principal dessas perturbações está no fato de que muita gente se deixa abater pela pesada carga de um passado opressivo e de amanhãs cheios de apreensões”.

Na prática, isso quer dizer que havia um número razoável de estressados na década de 1950 – aquele período definido pelos americanos como a “golden age” (“era dourada”). A economia do pós-guerra bombava e o crédito era farto, com subúrbios sendo populados a toque de caixa – e com pelo menos um carro em cada garagem. No Brasil, vivíamos também um período de crescimento e expansão, que chegaria ao auge no governo de Juscelino Kubistchek (embora com crises políticas profundas, como a que resultou no suicídio de Getúlio Vargas).

Ao olhar para trás, no entanto, pensamos nessa era como um oásis de calmaria perto da correria em que vivemos hoje. Ao ler o texto de Carnegie, contudo, é impossível não pensar naquilo que o escritor Laurentino Gomes escreveu sobre o anacronismo em seu livro “Escravidão”. Segundo ele, este fenômeno “consiste num erro de cronologia ao atribuir a uma época (ou a um personagem) ideias e sentimentos que são de outra conjuntura, ou em representar, nas obras de arte, costumes e objetos de um período de tempo ao qual não pertencem. Ou, ainda, atitude ou fato que não está de acordo com a sua época”.

Ou seja, nosso conceito de estresse é bastante diferente daquele que havia nos anos 1950. A vida era mais calma do que a que temos hoje? Sem dúvida? Mas, e em relação ao que se experimentava em 1930? Talvez fosse um cotidiano bem mais acelerado e, portanto, extremamente nervoso e agitado para os padrões da época. Por isso, os indivíduos daquele momenot histórico tinham dificuldades para acompanhar o ritmo frenético de crescimento da sociedade – e, ao mesmo tempo, viam a vida de antes desaparecer inevitavelmente.

Embora os brasileiros sejam classificados como simpáticos pelos estrangeiros, sofremos muito com o estresse. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, classifica o brasileiro como o segundo povo mais estressado do mundo. Qual é o primeiro colocado? Os japoneses, vistos por nós como pessoas pacientes e calmas.

Isso mostra que o estresse é algo que mói as pessoas por dentro e não necessariamente se manifesta através de ataques histéricos ou gritos descontrolados. Dentro dessa lógica, portanto, os japoneses não explodem – e sim implodem, o que faz um mal enorme, pois desta maneira não há como extravasar a raiva.

É curioso pensar que a cultura que produz a população mais pacífica do mundo, com índices muito baixos de violência, consiga gerar tanto estresse. “O bambu que dobra é mais forte comparado ao carvalho que resiste”, diz um provérbio japonês. Pode ser verdade. Mas, a cada vez que esse bambu se flexiona, causa uma ferida mental que será registrada no cérebro – e cuja fatura será cobrada na forma de uma doença psicossomática ou uma internação hospitalar. Ou, em casos raros e extremos, um ataque histérico daqueles que abrem as portas de uma clínica de repouso.

Talvez, no final das contas, seja melhor explodir que implodir. Mas aqueles que estão ao lado de quem extravasa a sua raiva provavelmente não vão concordar com isso. E vpcê? Explode ou implode?

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