Nessa semana, li o livro “A Biblioteca da Meia-Noite”, de Matt Haig, que está na lista de best-sellers no Brasil. O ponto de partida é o de uma personagem que, frustrada e infeliz com sua vida, tenta o suicídio. Em vez de morrer, é transportada para uma biblioteca na qual cada livro é uma vida diferente que ela poderia ter experimentado, desde que tomasse diferentes decisões. Nesta narrativa, há infinitos universos paralelos – e ela tem a oportunidade de experimentar essas outras experiências. O enredo gira em torno de outra publicação que se encontra na mão de uma bibliotecária – o livro dos arrependimentos. Nesta brochura, estão todas as contrições que ela sentiu ao longo da vida original. Ao tentar reverter um arrependimento, ela experimenta uma vida alternativa.
Essa premissa me fez gastar algum tempo refletindo sobre o arrependimento em si. Recentemente, cheguei à conclusão de que não me arrependera de nada na vida, pois gosto muito do meu presente e das pessoas que me cercam. Reverter uma contrição mudaria o meu presente – e isso é algo que não quero.
Mas continuei a matutar sobre o tema. Você pode ser arrepender de uma atitude e lamentá-la, sem querer mudar o seu destino. É possível condenar um comportamento que se teve no passado e seguir em frente, buscando ser uma pessoa melhor. A falta de remorso nos deixa autômatos ou com a sensação de que chegamos a um ponto no qual não precisamos mudar ou evoluir.
Já vi gente dizer que se arrepende apenas daquilo que não fez – ou celebridades, como Anthony Hopkins, afirmando que não possuem um só arrependimento na vida (algo curioso para quem não fala com a própria filha há mais de vinte anos).
Mas é difícil acreditar nisso. Eu mesmo, que não consigo me enxergar em outra vida que não a atual, me pego pensando no passado e recriminando minha atitude – ora imatura, ora egoísta. Ser dominado pelos arrependimentos, no entanto é viver no passado. Mas menosprezar aquilo que fizemos de errado lá atrás pode gerar comportamentos condenáveis que se repetem exaustivamente. Como em tudo na vida, os arrependimentos devem ser levados em conta com moderação. Ignorá-los pode ser ruim; superestimá-los, porém, podem nos levar a um caminho pior.
Emendei a leitura de “A Biblioteca” com o livro “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, de Taylor Jenkins Reid. Logo no início, topei com essa frase, dita por uma veterana estrela de cinema que deseja contar sua vida para uma jornalista: “Sendo bem clara, eu tenho arrependimentos, sim. Só que… não é uma coisa sórdida. Não me arrependo das mentiras que contei ou de ter magoado as pessoas. Aceito o fato de que às vezes fazer a coisa certa obriga a gente a pegar pesado. E tenho compaixão por mim”.
Essa frase me atingiu em cheio. Talvez esse seja o segredo de lidar corretamente (ou de uma forma justa) com o arrependimento — a capacidade de entender o contexto de nossas ações no passado e nos perdoar, seguindo em frente sem ficarmos presos ao que aconteceu.