Desde que o governo divulgou o seu pacote de gastos, bancos e economistas torceram o nariz. Primeiro, apontaram fraqueza e flacidez nos tópicos escolhidos pelo ministério da Fazenda para reduzir as despesas públicas; houve também intensa preocupação sobre o timing em se anunciar o tal pacote simultaneamente à decisão de se zerar o imposto de renda daqueles que ganham até R$ 5.000 mensais.
A consternação que se criou tem a ver com o fato de que o Planalto decidiu desovar um plano de baixa potência, aliada a uma medida que vai reduzir a arrecadação em no mínimo R$ 35 bilhões (mas há quem calcule o prejuízo em mais de R$ 50 bilhões ao ano). Quem foi chamado para pagar essa conta? Aqueles que ganhar mais de R$ 50.000 mensais – em especial, os assalariados desta faixa que estão na alça de mira do governo.
A combinação destes três fatores – acompanhada da incerteza de como o pacote será votado no Congresso – jogou o dólar nas alturas, fechando ontem em R$ 6,06. Trata-se de um movimento clássico: investidores, inseguros, encontram refúgio na moeda forte, cuja cotação ainda não deu sinais de arrefecimento.
Dentro deste contexto, quem foi o culpado pela disparada do dólar? Parece óbvio: o próprio governo, ao espalhar incertezas, acabou por forçar o capital a buscar abrigo em um lastro seguro. Mas o PT viajou na maionese ao tentar explicar a alta do dólar. Veja a mensagem que vem sendo postada pelos petistas e defendida pela presidente do PT, Gleisi Hofmann (imagem):
Vocês leram corretamente: os petistas acreditam que a culpa é da chamada Faria Lima. Para completar, Gleisi disse o seguinte: “Mercado passou semanas exigindo cortes e quando o governo apresenta medidas de esforço fiscal e contenção de despesas, para economizar R$ 70 bilhões em dois anos, propõe uma reforma da renda socialmente justa e fiscalmente neutra; o que acontece? Mandam o dólar pra lua! É impressionante a especulação contra o Brasil”.
A guerra de narrativas chegou a um nível insustentável. Botar a culpa nos bancos, neste caso, é de uma irresponsabilidade enorme. O governo deve se movimentar para encontrar uma saída honrosa e técnica para a alta do dólar, evitando manipulação de cotações. E fazer com que o PT deixe de culpar os mais ricos por tudo o que de mal ocorre no país. Só assim poderemos começar a enxergar uma sociedade pronta para saltos qualitativos, que abrace a moderação e o diálogo. Caso contrário, estaremos sempre condenados a viver o passado — mais especificamente no século 19, quando o capitalismo selvagem dava as cartas e a Luta de Classes era um tema importante nas discussões econômicas. Precisamos deixar esse blablablá de lado e nos unir em torno de um país mais competitivo, que consiga gerar um volume maior de riquezas e reduzir as desigualdades sociais.