Muito se fala sobre a falta de fidelidade das novas gerações aos seus empregadores. Mas são poucos os dados que comprovam essa tese. Nesta semana, porém, o Ministério do Trabalho e do Emprego divulgou uma pesquisa que pode trazer esclarecimentos sobre esse fenômeno. Em 2023, 7,4 milhões de pessoas pediram demissão das empresas em que trabalhavam, em um total de 34% sobre todos os desligamentos. A título de comparação, em 2010 houve 4,6 milhões de cartas demissionárias – ou 26% do total. Neste ano, 4,3 milhões de pessoas se desligaram por conta própria de janeiro a junho, o que representa uma alta de 14% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Os principais motivos relatados para essas demissões por conta própria são: baixos salários, falta de reconhecimento por parte da chefia e dilemas éticos envolvendo o método de trabalho, além de relacionamento ruim com o superior imediato. Sobre o principal motivo para o pedido de demissão, 58% dos entrevistados realmente trocaram de empregos por salários maiores. Mas isso significa também que 42% trocaram de emprego para ganhar a mesma coisa ou até menos.
A alta de demissões é facilmente explicada pelo aquecimento do mercado de trabalho, que vem reduzindo seguidamente as taxas de desemprego. Mas o que dizer destes 42% de trabalhadores que decidiram mudar de endereço corporativo sem aumento de salário?
Isso quer dizer que no primeiro semestre deste ano, 1,8 milhão de pessoas preferiu sair de onde trabalhava para ganhar a mesma coisa ou menos do que no emprego anterior. As razões que impulsionam esse tipo de decisão nada têm a ver com o aquecimento do mercado de trabalho, que vem turbinando a oferta de vagas nos ramos de tecnologia da informação, organizações não-governamentais, serviços de arquitetura e de engenharia, atividades jurídicas e contábeis, educação e vigilância.
Um dos consensos entre aqueles que estudam o comportamento dos jovens profissionais – aqueles que praticamente entrevistam os representantes de uma empresa que deseja contratá-los – é a de que a nova geração procura um trabalho que tenha propósito. Esse termo ficou desgastado pelo uso excessivo de influenciadores e gurus de recursos humanos, mas define exatamente aquilo que buscam muitos profissionais em início de carreira.
Estes jovens estão mais preocupados em trabalhar em uma companhia com a qual se identificam e não se preocupam sobremaneira com o holerite inicial. Curiosamente, no entanto, mostram um paradoxo em seu comportamento: eles têm muita ambição e querem promoções rápidas, assim como manifestações frequentes de reconhecimento.
O fato de as ONGs estarem entre os setores que mais contrataram nos últimos tempos mostra que a busca por propósitos é de fato algo importante – e um opção totalmente diferente da exercida pela geração anterior, que entrou no mercado de trabalho na década de 1980. Para quem não se recorda, esse período ficou marcado pelos yuppies, profissionais urbanos e jovens que buscavam altas remunerações e gostavam de ostentar.
Será que os jovens em busca de um propósito estão questionando a geração de seus pais, considerada materialista demais? Freud deve explicar essa mudança de comportamento.