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O que faz você ter um ataque de nostalgia?

Nos últimos tempos, tenho experimentado um fenômeno que batizei de nostalgia instantânea. No domingo retrasado, estava eu lendo o finalzinho do quarto volume da série napolitana de Elena Ferrante. De repente, ouvi um monomotor ganhando altura, naquele som monocórdio e insistente, do tipo que muda o diapasão conforme vai se afastando.

Moro a duzentos metros de onde ficava a casa dos meus pais durante a minha infância. E, aos domingos à tarde, ouvia esse mesmo barulho algumas vezes durante o dia. Do início ao fim, essa trilha sonora demorava cerca de dois minutos para desaparecer – uma duração que, para mim, parecia uma eternidade.

Quinze dias atrás, no entanto, o ruído da hélice do aviãozinho passou muito rápido. Mas acabou me trazendo várias memórias dominicais de quando era criança. O almoço que minha mãe preparava, a louça com pratos estampados com flores e folhas tropicais, os tremeliques da geladeira que atrapalhavam a nossa conversa.

Me peguei matutando sobre os armários de nossa cozinha, que eram de aço – algo que nunca vi nas outras casas. Meus amigos faziam suas refeições em cozinhas decoradas com madeira ou fórmica. Aço – ainda por cima pintado de azul claro – era marca registrada da minha casa. Cada vez que fechávamos uma portinhola ou uma gaveta, o baque metálico produzia um zunido particular, que ficou na minha mente até hoje.

Além do som, os cheiros também têm esse poder de nos transportar imediatamente para o passado. Um deles era o perfume English Lavender, fabricado aqui pela Atkinsons. Mas outras fragrâncias também deixaram marcas na memória. O Rastro era um deles. E os produtos Pinho Campos do Jordão – acho que da Bozzano – e os da linha Alert. Os dois tinham o limão como base e eram bem fortes.

Há sabores que ficam guardados em nossos corações. Por alguma razão misteriosa, conseguimos lembrar deles. Tenho três lembranças muito fortes neste quesito. Um é o Urso Branco, da extinta Sonksen – um chocolate branco que parecia misturado ao chocolate normal, com um fundo de queimado. O gosto do refrigerante Cerejinha também me vem na memória de vez em quando. Por fim, o sorvete tutti-frutti, que não existe mais.

Tenho sempre ao meu lado três relíquias do passado me servem também para criar gatilhos imediatos de nostalgia. São eles um equipamento de som do tipo “Três em Um”, da National Panasonic; um aparelho portátil de TV da Philco; e a máquina Olivetti Lettera 25, verdinha. Os coloquei em minha sala e sempre dou uma conferida neles.

Para mim, é importante manter o vínculo com o passado, relembrar histórias e experiências, sempre lembrando de onde viemos o que fizemos anos atrás. Enxergar nossa trajetória como um todo nos faz mais humanos e, assim, conseguimos mapear nossa evolução como pessoas. E nos fortalecer para seguir adiante em nossos novos desafios.

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