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Os discursos de vitória que nunca foram lidos

Quando Walter Salles Jr. subiu ao palco para receber seu Oscar de melhor filme internacional, imediatamente colocou seus óculos de leitura para ler um discurso previamente preparado. Mas, como ele mesmo revelou mais tarde, perdeu o papel e teve de improvisar – com aquelas lentes de vista cansada penduradas em seu nariz. Trata-se de um caso raro: um vencedor que deixou de ler suas palavras de agradecimento. De qualquer forma, ao ver aquela cena, pensei na infinidade de discursos que foram cuidadosamente pensados e escritos para serem lidos na maior celebração mundial do cinema, em frente a um público próximo a 20 milhões de pessoas pelo mundo inteiro. Mas essas palavras nunca foram ditas por uma razão muito simples: seus autores perderam a disputa.

A organização do prêmio, há alguns anos, tirou o bordão “and the winner is…” de cena e o substituiu por “and the Oscar goes to…”. A ideia era oferecer uma perspectiva ao público de que não há vencedores ou perdedores nesta disputa, que, no fundo, é uma grande celebração à indústria cinematográfica.

Ocorre que há um forte sentimento de derrota por parte de quem perde. Alguns não ligam, outros disfarçam muito bem – mas muitos ficam incomodados e fazem questão de mostrar isso (lembram-se de Kate Winslet em 1998, focalizada após perder o Oscar para Helen Hunt, claramente reclamando do resultado?).

Muitos desses derrotados tinham um papelzinho dobrado com uma lista de nomes que deviam ser mencionados em um discurso de agradecimento e pelo menos alguma frase de efeito. Trata-se de um anonimato forçado pelo revés, que jamais ganhará a notoriedade.

Mas e quando os textos são lidos por milhões, mas a autoria das palavras permanece em segredo? É o caso da escritora italiana Elena Ferrante, que já conquistou mais de 16 milhões de leitores no mundo inteiro, mas ninguém sabe ao certo quem ela é (especula-se que ela poderia ser a escritora italiana Anita Raja ou seu marido, Domenico Sartore; já li livros de Ferrante e de Sartore: são estilos completamente diferentes. A narrativa da escritora é muito melhor, diga-se).

Quando um artista voluntariamente desiste da exposição e dos holofotes, é algo que precisa ser analisado. Afinal, o reconhecimento público do trabalho faz parte do perfil de quem trabalha com artes, em qualquer campo de atividade.

Voltando ao anonimato forçado – aquele vivido pelos perdedores do Oscar.

Em 1942, “Cidadão Kane” concorreu em nove categorias e o público acreditava que a película de Orson Welles iria levas as estatuetas de melhor filme de direção. Só que esses prêmios foram para John Ford, com “Como Era Verde o Meu Vale”. Como teriam sido as palavras de agradecimento de Welles?

Durante a festa de 1977, todos achavam que subiriam ao palco Howard Gottfried (“Rede de Intrigas”), Michael Phillips (“Taxi Driver” ou Walter Coblenz (“Todos os Homens do Presidente”) para receber o Oscar de melhor filme produzido no ano anterior. Mas coube a Irwin Winkler a primazia de receber o prêmio por “Rocky, um Lutador”.

Destes, somente Phillips teve a chance de fazer um discurso de agradecimento. Mesmo assim, foi antes de perder para “Rocky” em 1977: ele ganhou a estatueta com “Golpe de Mestre”, de 1974. O que ele iria dizer naquela noite de 1977? Até hoje, ele não contou esse segredo para ninguém. Mas Phillips, aos 82 anos, continua ativo. Quem sabe ele não consegue ainda receber um Oscar e fazer mais um speech de agradecimento?

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