Pesquisa do banco HSBC registrada em reportagem da revista Fortune mostra que 52% dos empresários não têm um plano de sucessão para os seus negócios. Este fenômeno ocorre quando a maior transferência de riqueza entre gerações da história está em andamento: os indivíduos mais velhos, em especial os chama baby boomers (nascidos entre o 1945 e início dos anos 1960), vão repassar US$ 84 trilhões para seus herdeiros até 2045.
Esta enorme transferência de recursos deixa os críticos das gerações mais jovens em polvorosa. E deve dar início a uma grande mudança no perfil financeiro do planeta. O dinheiro, em primeiro lugar, deve trocar de mãos dentro das famílias – e depois, migrar para outras mãos. Estima-se que 70% das famílias ricas perdem sua riqueza na segunda geração, e 90% na terceira, por meio de uma combinação de dispersão de ativos, perdas de capital e impostos sobre herança.
Mas uma das principais razões pelas quais a fortuna se esvai dos cofres dos herdeiros é a falta de planejamento e um plano eficaz de sucessão nas empresas. Segundo a pesquisa do HSBC, apenas 12% dos entrevistados planejaram a sua saída das empresas que comandam.
Muitas vezes, a ficção e a realidade se misturam. Neste caso, a série “Succession” é um exemplo perfeito. O seriado mostra como o fundador de um império de comunicações, Logan Roy (Brian Cox), prejudica seus negócios ao não apontar um sucessor para seu cargo, apesar de estar com mais de 80 anos de idade. A corporação vai afundando aos poucos, corroída por uma guerra interna de poder. Acaba sendo vendida e comandada por um executivo no qual ninguém apostava: o genro ambicioso, invejoso e incompetente.
Muitos dos empresários resistem, como Logan Roy, a passar o bastão. Afinal, renunciar ao poder é admitir que um ciclo se encerrou – e aquele que se afasta é a peça principal desta etapa que chega ao final. A aposentadoria, neste caso, é a admissão irrevogável de nossa finitude. Isso é letal para quem dedicou a maior parte de sua vida à construção de uma empresa, muitas vezes dedicando mais tempo aos negócios do que à própria família. Não é à toa, portanto, que 64% dos entrevistados concordem total ou parcialmente que suas vidas pessoais e profissionais estejam completamente entrelaçadas.
Como em “Succession”, vários fundadores não enxergam em seus herdeiros a competência necessária. Muitas vezes, isso é verdade. E esses sucessores talvez nem queiram assumir as rédeas do negócio familiar. Mas há situações em que a vaidade do patriarca ou da matriarca simplesmente impede uma análise mais pragmática da falta de sucessão: o que é pior para a companhia, uma gestão ultrapassada ou um herdeiro que ainda não está pronto para assumir os negócios?
No fundo, talvez ninguém esteja pronto para o trabalho de CEO até estar instalado na sala da presidência. Mas muitos conseguem pedalar a bicicleta rápido demais. Outros se desequilibram, mas seguem em frente. E ainda temos aqueles que tomam tombos seríssimos. Alguns se recuperam, outros não.
Muito tempo atrás, se contava entre os jornalistas que Roberto Marinho, fundador da TV Globo, dizia para seus filhos: “Se eu morrer…”. O “se”, nesta frase, é fundamental e mostra que existe entre os fundadores uma esperança de imortalidade que atrasa os processos de sucessão. Não se sabe se essa tirada do dr. Roberto tenha sido mesmo dita ou se foi uma brincadeira. O fato é que muitos homens de negócios preferem varrer para debaixo do tapete a ideia de que seu tempo está acabando. E, com isso, colocam em risco o próprio legado – e o patrimônio de sua família.