Nesta semana, conversava com um amigo sobre um dos maiores desafios de sua carreira: montar e motivar uma equipe de executivos. Para qualquer profissional que deseja evoluir profissionalmente, esse é um ponto crucial. Mas a coisa não para por aí. Depois de alguns anos, aquele time de sucessos começa a sofrer alguns efeitos do tempo que passa. É muito comum, neste cenário, que alguns colaboradores se acomodem – ou fiquem mais tempo fazendo jogos políticos e se dedicando menos à execução de suas tarefas.
O grande dilema, nessas horas, é: trocar aquele funcionário cuja performance piorou, mas você confia plenamente, por alguém claramente mais capacitado e motivado (que é, por outro lado, um desconhecido)? Nosso lado racional não pestanejaria: vamos trocar. Mas muitos de nós deixam a emoção decidir e vão postergando essa decisão, até que seja tarde demais.
Nesta hora, lembrei de uma frase que ouvi tempos atrás. O presidente da empresa na qual trabalhava estava exasperado com a conduta de um diretor, que tinha mais de duas décadas de casa e, em uma rodinha de amigos, espinafrava o tal sujeito. Um de seus interlocutores, então, perguntou: “Por que você não manda esse cara embora?”. O meu chefe, então, arregalou os olhos, como se nunca tivesse pensado nessa hipótese e desabafou: “Não consigo me livrar dos meus idiotas de estimação”.
Esse mesmo empresário, no ano seguinte, foi avisado que um dos membros do primeiríssimo escalão da companhia iria demitir um de seus diretores, que era um funcionário antigo. O motivo? Incompetência. Intrigado, ele pediu ao diretor de recursos humanos que trouxesse a ficha do demitido. Um detalhe chamou a atenção: aquele colaborador, chamado de incompetente, havia recebido um gordo bônus no ano anterior. Ele, então, chamou o seu subordinado direto e o confrontou com a bonificação dada ao executivo que seria demitido.
Por que ele havia dado um bônus a quem teoricamente não merecia? “É que eu percebi que também tinha os meus idiotas de estimação”, respondeu o executivo. “Eu resolvi, então, mandar todos embora”. Depois disso, houve um efeito dominó na empresa e muitos diretores antigos (os tais idiotas de estimação) foram igualmente mandados embora.
Em várias multinacionais, no entanto, isso dificilmente ocorre. Nos últimos tempos, inclusive, é possível enxergar muita gente boa mandada embora. Os motivos variam, mas invariavelmente há uma razão política por trás desses movimentos. Um exemplo clássico é a troca de chefia regional por alguém que não conhece o mercado e exige um crescimento irracional nas metas de vendas.
O executivo esperneia e é demitido. Ou engole os novos objetivos, não consegue cumpri-los e também é mandado embora. Hoje, nas grandes companhias, o problema – com idiotas de estimação ou profissionais extremamente capacitados – é de relacionamento ou falta de inteligência emocional. O idiota de estimação de hoje pode ser o líder espetacular de amanhã. Basta ter uma chefia que entenda o que está acontecendo e forneça condições de superação.
Olhe para sua equipe: você tem algum idiota de estimação no time? Se tiver, tome uma providência para tirá-lo do estágio de letargia. Caso contrário, um bilhete azul com o seu nome pode chegar quando você menos esperar.