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Os mais velhos estão de volta ao mercado?

Uma das razões pelas quais enveredei pelo empreendedorismo foi justamente imaginar o que seria de mim no mercado de trabalho após fazer cinquenta anos de idade. Naquele momento, havia pouquíssimos profissionais mais velhos em posições como as que eu ocupava nos últimos tempos. Imaginei, então, que as chances de sofrer algum tipo de etarismo (um termo que nem se utilizava então) seriam altíssimas. Diante disso, preferi trabalhar por conta própria (enfrentando outro tipo de desafios) e evitar uma possível rejeição no futuro.

Mas ao julgar pelos últimos acontecimentos, talvez esse quadro esteja mudando – embora seja tarde demais para eu largar a vida de pequeno empresário.

O primeiro sinal veio do Censo divulgado recentemente. Esperava-se que o país continuasse em um ritmo acelerado de crescimento, mas não havia ainda números oficiais, já que o IBGE não realizou sua pesquisa em 2020.  As previsões, assim, apontavam que a população brasileira estaria em torno de 213 milhões de pessoas. Quando saíram os números oficiais, o total de brasileiros era bem menor: 203 milhões de habitantes. Essa queda no ritmo populacional se refletiu em um envelhecimento médio dos cidadãos. A população de 30 anos ou mais de idade registrou um crescimento, atingindo um total de 56,1%, contra 50,1% em 2010.

Um estudo feito pela consultoria LCA e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo joga mais luzes sobre o fenômeno. A pesquisa mostra que a idade média do brasileiro empregado, agora, é de 39,3 anos, contra 37,2 aos registrados em 2012. Quando somamos o envelhecimento generalizado da sociedade com a escassez de mão de obra qualificada, temos uma mudança significativa no mercado de trabalho: os profissionais com mais de cinquenta anos voltaram a ser contratados. Trata-se de gente com experiência comprovada e que pode suprir vagas que dificilmente são preenchidas por deficiência técnica dos candidatos (um reflexo da decadência de boa parte do ensino universitário).

Ainda há outro motivo para que gente mais experiente esteja no radar de grandes empresas: a onda ESG, que estimula as companhias a exercer a inclusão social. Em um primeiro momento, essa preocupação se voltou mais para incluir mais mulheres, negros, pardos e minorias diversas. O grupo dos sêniores, no entanto, não era muito lembrado pelos executivos de Recursos Humanos até o ano passado. Mas, em 2023, as atenções também se voltaram para quem está em uma faixa etária superior aos 50 anos.

Se, por um lado, isso tudo é excelente – já que traz de volta gente produtiva e estava encostada por puro preconceito –, há também o risco de se criar condições para conflitos de geração dentro dos escritórios. Há muitos veteranos que enxergam os mais jovens como uma “geração mimimi” e podem criar conflitos. As empresas precisam estar atentas a esse cenário e mediar os eventuais desentendimentos para que não haja queda de produtividade – ou de qualidade.

Oito anos atrás, um filme de Hollywood antecipou essa tendência, com a produção “Um Senhor Estagiário” (imagem), com Robert De Niro e Anne Hathaway. Na película, De Niro se candidata a uma vaga de estagiário da empresa de Hathaway, que o recebe com relutância. Mas, aos poucos, o senhor de 70 anos vai abrindo seu espaço dentro do escritório e conquistando a confiança de todos.

Trata-se de um enredo delicado, pois a narrativa pode descambar para o melodrama barato. Mas não é o caso aqui. Percebe-se que a experiência de Ben Whittaker (De Niro) é de grande ajuda para a empresa de Jules Ostin (Hathaway), que emprega apenas jovens. Além de vivência, Whittaker traz algo que falta a muita gente: inteligência emocional, que pode ser adquirida depois de muitos anos de estrada.

A combinação de talentos entre gerações diferentes pode ser espetacular, como mostra o filme. Mas, na vida real, esta fórmula, para funcionar, vai precisar de muita generosidade dos dois lados.

Vamos esperar que essa combinação funcione. O mundo vai ficar bem mais interessante desse jeito.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Análise muito positiva e motivadora para nós +50 e admiradores da causa Aluízio.
    Pessoalmente sou tão fã do filme que já postei no LinkedIn aquela parte na qual o De Niro fala que os músicos não se aposentam. Eles param quando acaba a música dentro deles, mas ele diz: “Ainda tenho muita música dentro de mim”.
    Eu tbm! Abraço

  2. A realidade está muito distante ainda, torço para que as empresas olhem o potencial dos profissionais 50+, a pirâmide está está mudando, a realidade já é outra, mas o preconceito está aí e vai longe

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