Aproveitando a onda nostálgica sobre a qual escrevi ontem: para quem foi criança nos anos 1970, as reprises de seriados americanos produzidos na década anterior (ou até antes disso) foram importantíssimas. Heróis e mocinhos contra bandidos e vilões eram comuns em nossa telinha. As opções de entretenimento dentro de casa eram poucas: a leitura ou a televisão (lembremos que, nos primeiros anos da década, a televisão ainda era em preto e branco; além disso, a imagem era capturada por antenas, proporcionando toda a sorte de interferências naquilo que víamos).
Ao final da década, já era um adolescente. Mas vivi o início dos anos 1970 ainda criança. Foi assim que lembro da transformação da TV Globo de uma emissora assumidamente brega para ou outro modelo, pretensamente sofisticado. Isso, no entanto, não afetou a exibição dos chamados enlatados, ou os seriados, que vinham ao Brasil dentro de uma embalagem metálica – daí o nome que inventaram.
É possível acessar essas lembranças incríveis no YouTube. Nesta rede, é possível reviver cada momento que nos marcou quando pequenos. E também nos abre outra oportunidade incrível – a de conferir que nossa memória, nem sempre, é fiel à realidade. Já cansei de abrir arquivos e perceber que minhas lembranças eram bem diferentes daquilo que tinha verdadeiramente sido exibido.
Vamos conferir, então, os dez personagens que mais marcaram a minha geração na infância:
BATMAN – Antes de mais nada, adorava o Batmóvel do seriado ambientado nos anos 1960. E ficava horas imaginando como é que Batman (Adam West) trocava de roupa nos canos que saíam da biblioteca de sua mansão para a Batcaverna. Vi esse seriado dos sete aos quatorze anos. Quando era bem pequeno, levava todas as tramas ao pé da letra. Depois, percebi que havia algum tipo de humor nos roteiros. Só na adolescência entendi que aquilo era uma comédia.
MULHER-GATO – Essa foi a minha primeira paixão platônica. Julie Newmar, uma mulher esguia de um metro e oitenta de altura, esbanjava sensualidade no papel de Mulher-Gato. Ela sempre estava em dúvida se agredia Batman ou o namorava. Foi uma espécie de amor mal correspondido pelos dois lados.
BATGIRL – Na última temporada, surgiu a personagem de Barbara Gordon (Yvonne Craig), que, nas horas vagas, combatia o crime usando uma peruca e um traje de morcega. Não era tão sensual e perigosa quanto a Mulher-Gato, mas tinha um jeito cativante e divertido. Resultado: troquei a Mulher-Gato por ela.
SUPER-HOMEM – O ator George Reeves teve apenas um momento de grande sucesso em sua carreira, e foi ao encarnar o Homem de Aço. Ele acabou com a própria vida, depois de perceber que não conseguiria se livrar do estereótipo criado por sua atuação no seriado. O episódio mais marcante, para mim, foi um em que ele aprende a atravessar paredes apenas com a força da mente. Simples e divertido.
JEANNIE – A próxima da minha lista de namoradas platônicas foi Barbara Eden, que personificava a gênia que se apaixonava por seu amo, o astronauta e major Anthony Nelson (Larry Hagman). Além dela, gostava também do “comic relief” proporcionado pelo colega de Nelson, o major Roger Healey (Bill Daily), além do psiquiatra Alfred Bellows (Hayden Rorke), que via as mágicas de Jeannie e achava que estava ficando louco.
MICKY – Uma de minhas séries favoritas era aquela sobre uma banda de rock que queria se firmar no cenário musical, chamada The Monkees. O seriado, fracamente baseado nos Beatles, tinha quatro personagens principais. Destes, o que eu mais gostava era o baterista Micky, vivido por Micky Dolenz. Ele era o mais malucão e engraçado do grupo. Abaixo, na foto, ele está ao lado de um grande fã da série — um tal de Paul McCartney.
SPEED RACER – O. K., é um desenho japonês animado sobre um piloto de corridas. Mas o meu grande sonho, nesta época, era correr na Fórmula 1 – daí o interesse pelo seriado. O enredo dessa série é uma mistura entre os filmes de James Bond com as disputas automobilísticas que são vistas no filme “Viva Las Vegas”, de Elvis Presley (o visual de Speed, por sinal, é totalmente baseado no de Elvis, com topete preto e olhos azuis).
JAMES WEST – Este personagem, vivido por Robert Conrad, era uma espécie de 007 do Oeste, sempre utilizando uma traquitana tecnológica contra seus inimigos. Com roteiros inovadores e histórias ágeis, era um prato cheio para crianças com imaginação. Lembro particularmente de um episódio em que uma vilã injeta sem si mesma, sem querer, uma injeção que provoca o envelhecimento de uma pessoa em segundos. Ah, vale uma menção honrosa para seu escudeiro, Artemus Gordon (Ross Martin).
DR. SMITH – Ele era a minha razão para ver “Perdidos no Espaço” e ficar assistindo às brigas que ele tinha com o pobre robô da família Robinson. Anos atrás, vendo um documentário sobre o seriado, o ator Jonathan Harris declarou que muita gente perguntava se ele era inglês, por causa de seu sotaque. “Inglês? Não…”, respondia ele. “Eu sou afetado mesmo…”.
MARY TYLER MOORE – Passava ao final da tarde na Globo e o enredo não tinha nada a ver com o público infantil da época. Mas eu gostava das histórias e do jeito ranzinza de Lou Grant (Edward Asner), o chefe de Mary. Ah, se você entrar no YouTube e ver a introdução do programa, verá, por segundos, Mary Tyler Moore almoçando com um senhor. Ele é Grant Tinker, casado com ela na época. Falando nessa abertura, gosto muito da música-tema.
LAURIE PARTRIDGE – Vivida por Susan Dey, ela era a tecladista da Família Dó-Ré-Mi e outra paixão platônica. Perdia até a concentração quando ela entrava em cena. Também gostava das confusões provocadas pelo irmão ruivo, Danny (Danny Bonaduce).
E você? Quais são os personagens que marcaram a sua infância?
Uma resposta
O ator que fazia James West era Robert Conrad