Um estudo feito pela Universidade de Harvard sobre delinquência juvenil mostrou que 60 % dos jovens infratores têm pais que bebem excessivamente; cerca de 75 % desses garotos e garotas têm permissão para fazer o que bem entenderem; e 80% dos entrevistados se queixam da indiferença das mães e 60% dos pais.
Parece um retrato perfeito do que ocorre no mundo de hoje. Só que… esse estudo é de 1954.
Como se pode ver, há certas coisas que não mudam – e a importância de figuras maternas e paternas presentes é algo inestimável. Em pleno século 21, no entanto, a regra de antes – a família de comercial de margarina – não é mais vigente. Temos uma diversidade enorme de núcleos familiares, que precisamos respeitar.
Mas a atenção que deve ser dispensada às crianças continua tendo a mesma relevância do passado, não importa a configuração familiar. A criança que não se sinta valorizada e cuidada tem grandes chances de se tornar um adulto problemático.
Há educadores que costumam se queixar do comportamento de determinados pais: com uma vida profissional atribulada, eles e elas teriam a expectativa de terceirizar a educação dos filhos para a escola. Professores e professoras são, evidentemente, uma parte importante na formação do caráter de uma pessoa. Mas são pais e mães que precisam orientar e incutir valores corretos nas personalidades dos pequenos. Se isso não for feito, a maior fonte de influência virá dos amigos e das redes sociais.
Falando em redes sociais, pais e mães de hoje têm um agravante em relação aos de 1954: crianças e jovens se isolam naturalmente no mundo digital. Mas esse é um problema que também atinge os adultos. Quando estiver em um restaurante, faça o teste: haverá pelo menos duas mesas em que todas as pessoas estarão absortas na navegação de seus smartphones, não importa a idade.
Este é um problema sério: aquele aparelhinho abre as portas de um mundo de entretenimento e de comunicação de uma forma tal que as pessoas de carne e osso – especialmente pais e mães – deixam de ser interessantes.
É, porém, necessário remar contra essa maré. Precisamos nos fazer mais atraentes – pelos menos na conversa – para chamar a atenção dos pequenos. Uma tarefa inglória, eu sei. Mas não podemos simplesmente desistir. Aquelas miniaturas de gente são o nosso futuro e merecem esse sacrifício. É como Benjamin Franklin já disse: “Nem sempre podemos construir um futuro melhor para os nossos jovens, mas podemos preparar melhor os nossos jovens para o futuro”.
Mas é aqui que mora o perigo. Muitas vezes, vamos achar que o melhor para nossos filhos é fazê-los uma reedição de nós mesmos. Isso, porém, não funciona. Primeiro, porque eles são diferentes de nós – e o futuro deles será completamente diferente do que vivemos em nosso presente.
Por isso, é melhor investir em nossos valores e na construção de um caráter sólido. Fornecer uma base na qual eles vão construir a própria vida. Esse tipo de empreitada, no entanto, só se faz aos poucos, com uma presença constante. E muita disciplina para estarmos sempre presentes nos momentos cruciais. Esse é outro desafio: como saber qual é o tal momento crucial? Impossível saber. Portanto, deixe uma porta imaginária sempre aberta para que filhos e filhas possam entrar a qualquer momento.