Alguns dias atrás, o promotor Lincoln Gakiya liderou uma operação que botou na cadeia dirigentes de duas empresas de ônibus por suspeita de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Na ocasião, Gakiya deu uma declaração que perturbou muita gente. “O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no estado, participando de licitações de estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália”, disse.
As investigações do Ministério Público sobre a infiltração do crime organizado em empresas que prestam serviços públicos vão continuar – até porque existem fortes indícios de que os criminosos atuam também nas áreas de saúde, coleta de lixo e assistência social. “No setor da Saúde, já há um ou dois municípios com problema na Região Metropolitana, por meio de OSs [organizações sociais], de lixo e assistência social também. Mas isso é só um outro capítulo [da investigação]”, afirmou o promotor.
De fato, percebe-se que existe uma profissionalização endêmica de quem pratica atividades que estão à margem da lei. Evidentemente, ainda há o bandido raiz, aquele que é violento e age por conta própria. Mas cresce rapidamente a figura do delinquente articulado, manipulador e anônimo.
Esse fenômeno, porém, não está relacionado apenas ao crime organizado. Outros grupos que atuam na zona cinzenta da lei, como os invasores de propriedades particulares, também estão se sofisticando e atuando nas sombras com uma abordagem diferente.
Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” mostra que houve pelo menos cinco ocorrências registradas no 23º distrito policial de São Paulo de invasões com uma pegada diferente da tradicional: os infratores estão também praticando o crime de extorsão. A delegacia em questão atua na área dos bairros do Pacaembu e das Perdizes.
O presidente do Conselho de Segurança dessas vizinhanças falou ao Estadão. “Há o indicativo de que os invasores mapeiam, estudam e até monitoram os imóveis que não estão sendo usados; observam a falta de movimentação da casa, como o acúmulo de correspondência na caixa do correio. Há relatos de que se trata de um esquema organizado”, explicou Josué Paes ao jornal.
O mais estarrecedor, porém, é a tentativa de extorsão. Os grupos condicionam sua saída imediata do imóvel – sem a necessidade de uma ação de reintegração de posse – ao recebimento de quantias que podem chegar até a R$ 100.000,00. Para tornar uma eventual reintegração mais complicada, os grupos sem moradia colocam crianças, adolescentes e idosos nas propriedades invadidas.
Ou seja, percebe-se que a atividade de invasão de residências chegou a um novo patamar. E revela que pelo menos alguns dos invasores não estão preocupados com uma casa para morar – e sim em tirar alguma vantagem em cima desta atividade.
O episódio, com certeza, será explorado na campanha para a prefeitura de São Paulo, até porque um dos competidores, o deputado federal Guilherme Boulos, começou sua vida pública como líder de uma organização invasora, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
Seria interessante saber o que deputado tem a dizer sobre esse caso. Afinal, uma coisa é invadir um local que não esteja habitado. Outra é pedir dinheiro ao proprietário para desocupar o imóvel.
Uma resposta
concordo até os dois últimos parágrafos.
MTST? Boulos?