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Pan, o chocolate highlander

A minha geração experimentou guloseimas inesquecíveis, que não existem mais: lanche Mirabel, chocolates Sonksen, pirulitos de caramelo Zorro e balas Frumello. Mas talvez nenhum outro doce tenha marcado tanto as crianças de minha época quanto os cigarrinhos de chocolate da Pan. Politicamente incorreto, esse produto mudou de nome nos últimos anos e virou “palitinho”, permanecendo um item indispensável na memória afetivas de baby boomers e da chamada geração X.

A Pan, que foi à falência em 2020, ganhou uma sobrevida nesta semana: a empresa teve 37 marcas vendidas em leilão para uma empresa chamada Real Solar. O valor da transação? Pouco mais de R$ 3 milhões. Isso quer dizer que cada um dos clássicos da minha infância (além dos cigarrinhos, havia também as moedas de embalagem dourada, o Chocolápis, as coloridas drágeas Petit e a bala Paulistinha) saiu por cerca de R$ 83 000.

Na minha infância, quase todos adultos fumavam – e aqueles cigarrinhos da Pan davam uma sensação se sermos mais velhos. O sabor? Sofrível. O teor de açúcar era alto até para uma criança e poderia levar um diabético ao coma profundo. Além disso, o gosto de gordura hidrogenada era fortíssimo. Mas a gurizada não se importava com isso. O mesmo valia para o pão de mel, que tinha um aroma para lá de artificial (mas todos nós amávamos quando tínhamos isso para o lanche da escola).

Tenho uma memória afetiva enorme relacionada com a Pan. Deveria ter uns cinco anos de idade e acordei muito cedo, com o dia ainda amanhecendo. Todos estavam dormindo em casa e fui em direção à cozinha. Chegando lá, sabia que estava procurando algo bastante gostoso (provavelmente, ouvi meus pais falando sobre isso na noite anterior).

Usei uma cadeira para subir no balcão da pia e abri uma porta do armário. Lá estava um ovo de Páscoa da Pan, que me parecia ser enorme (hoje, percebo que ele seria, no máximo, de 500 gramas). Sentei-me à mesa e comi metade ali mesmo, achando tudo delicioso. Alguns minutos depois, minha mãe me flagrou e me deu uma baita bronca. Mas era tarde demais.

Quando, já adulto, soube das dificuldades financeiras da Pan, custei a acreditar. Afinal, aquela empresa tinha sido o ícone de uma era e vendido muito chocolate. Mas, depois de ver as embalagens e o mix de produtos, percebi o óbvio: a Pan envelhecera e ninguém tratou de colocá-la na modernidade.

O ar retrô das embalagens já não agradava os pequenos consumidores – e os adultos já não apreciavam um chocolate tão doce. Presa em um hiato mercadológico, a empresa – fundada em 1935 – foi minguando aos poucos, até fechar as portas definitivamente quatro anos atrás. A empresa se foi. Mas a marca (uma abreviação de “Produtos Alimentícios Nacionais) vai sobreviver.

Quem sabe os novos donos conseguirão conquistar nossos filhos e netos como novos consumidores? Estarei na torcida.

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