Nesta luta contra a balança, muitos de nós renunciam ao mundo das gordices por um prazo que varia de pessoa para pessoa. Mas 99% de quem apaga as delícias gastronômicas da vida acaba tendo um surto, mesmo que momentâneo, e acaba devorando guloseimas com o apetite de leão. Nessas horas, alguns voltam à temperança. Mas outros chutam ao balde e deixam o comedimento para trás. O ano passado me ensinou uma lição básica: não adianta muito entrar em uma vida de privação total. É melhor ceder aos apelos gastronômicos com parcimônia do que viver um cotidiano monástico e sem graça.
Por isso, resolvi fazer uma lista das gordices que realmente valem a pena. Aquelas delícias que acariciam a sua alma e te levam imediatamente para o nirvana. Esta seleção tem um propósito muito específico: avaliar se vale a pena ou não deixar a dieta de lado. Um ponto de partida, assim, é a lista que vem abaixo. Essa tentação vale mesmo a pena? Está na minha lista? Então, vamos nessa.
No passado, já fiz listas de resoluções para o ano que entrava. Mas uma relação de comidas gostosas, daquelas que valem a pena o escorregão? Essa é a primeira vez. Curiosamente, neste meu ranking, há mais itens da baixa gastronomia do que pratos sofisticados. Isso deve ter a ver com nossa capacidade de relacionar a culinária ao conforto do espírito. Não é à toa que, em inglês, existe o termo “comfort food”.
Essas exceções precisam fazer parte de nossa vida. Caso contrário, viver fica chato e tenso. O prazer de comer precisa estar presente em nossas existências. Por isso, vamos abrir espaço para pequenas indulgências que vão nos ajudar a seguir em frente.
Esse é meu top ten das gordices:
+ Coxinha: sou um fã absoluto desse petisco e aprecio especialmente aquelas servidas em bufês infantis, cujo palito vem envolto em papel alumínio. Mas, fora isso, tenho três coxinhas espetaculares que fazem qualquer dia melhor. A que vem no topo da lista é a da Padaria Vila Real, tanto a versão normal como a mini – que tempero é esse? Aliás, agradeço a amiga Paula Esteves pela dica. Em seguida, temos a porção servida pelo restaurante brasileiro Jiquitaia (imagem). Simplesmente divina. Por fim, temos também as coxinhas da churrascaria Cortés. Com um gostinho defumado no fundo, é imperdível. Bônus: no quesito coxa creme, ninguém faz melhor que o Borgo Mooca. Inacreditável.
+ Queijo quente: qualquer padaria em São Paulo consegue fazer um queijo quente decente. Mas um estabelecimento que fica no meu bairro (Paes e Doces Vila Nova) está no topo da minha lista, especialmente nos dias em que o pão está crocante.
+ Pão francês com manteiga: já que estamos falando em padaria, essa perdição realmente vale a pena. Eu, particularmente, adoro os mais torrados, daqueles que fazem “crunch” a cada mordida. Se estiverem recém-saídos do forno, ainda quentinhos, é covardia: ver a manteiga derreter no pãozinho é algo hipnotizante. Escolha sua manteiga favorita (a minha é a La Sereníssima, com sal) e seja feliz, bem feliz.
+ Sanduíche de pernil: a combinação de um pernil assado, cebola e o molho com pimentão e tomate é algo tão bom, mas tão bom, que deveria virar patrimônio da humanidade, tombado pela Unesco. O do Mercadão é muito bom, mas tem um lugar especial no meu coração o do Bar e Lanches Estadão, que fica na rua Major Quedinho. Quando trabalhei na Gazeta Mercantil, cuja redação ficava ao lado, sempre pedia um sanduíche desses no balcão. Absolutamente sublime.
+ Farofa de ovos: sou um devoto desse acompanhamento que é oferecido por toda churrascaria que se preze. Minha favorita? Se for ao Rodeio, peça a farofa “Thomaz Souto Corrêa”, batizada em homenagem ao grande jornalista que inventou o arroz Biro-Biro (outra gema da gastronomia brasileira), em um almoço que ele organizou com o publicitário Washington Olivetto (que bolou o nome) e o craque de futebol Sócrates (que ia ser homenageado com a receita, mas não quis; por conta do dourado da batata palha, Washington sugeriu o nome “Biro-biro”, que mimetizava o cabelo louro e encaracolado do colega de Sócrates no Corinthians).
+ Biscoff: se você não conhece esse biscoitinho de café, está perdendo uma grande oportunidade de ser feliz por alguns segundos. A embalagem é feita para quem não consegue se controlar: os biscoitos são envelopados em dupla. Assim, conseguimos resistir melhor à tentação. É uma combinação perfeita para aquele café espresso providencial do meio da tarde.
+ Marjolaine: é uma sobremesa relativamente desconhecida. Portanto, se você não a conhece, tudo bem. Muitos dizem que é um bolo, outros acham que é uma espécie de mousse com três sabores. Há confeiteiros que a fazem baixinha, outros com altura. Temos receitas que levam merengue, ignoradas por outros doceiros. Quer acertar? Vá ao Freddy e enfrente o serviço lento para provar uma boa seleção de pratos franceses, mas deixe espaço para a marjolaine ao final. Como o Freddy define essa sobremesa? “Bolo francês gelado com nozes, chocolate, chantilly e amêndoas, servido com calda de chocolate quente”.
+ Chocolate Diamante Negro: a Lacta já foi vendida anos atrás, mas o sabor desta delícia de infância continua o mesmo. Alguém já me disse que a receita original, de 1938, foi mudada antes de 1960. Não tenho como checar essa informação, mas sei que desde a década de 1970, esse chocolate é igualzinho.
+ Lajotinha: um clássico da Kopenhagen, que hoje é encontrado em diversos formatos, a Lajotinha vai ainda encantar muitas gerações. Feito de wafer recheado com pasta de castanha-de-caju e coberto com uma generosa camada de chocolate ao leite, tem um toque de canela que faz toda a diferença.
+ Coupe Ardéchoise: é uma sobremesa clássica do restaurante La Casserole, que fica no Largo do Arouche, no centro de São Paulo. Trata-se de um creme gelado marron glacê (purê de castanha) com mousse de chocolate e creme chantilly. É feito com esmero há 70 anos, desde que o restaurante foi inaugurado por Roger e Fortunée Henry, pais da atual proprietária, Marie-France.
Você tem a sua própria lista de gordices que valem a pena? Mande para mim: [email protected].