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Por que há tanta gente contra a legalização do jogo?

Até 1946, o Brasil permitia o jogo e o país abrigava muitos cassinos. Eram 70 ao todo e somente na praia de Copacabana havia duas casas de jogatina (Copacabana Palace e Atlântico, ao final da praia, no Posto 6). Há ainda vários prédios abrigaram locais famosos nessa época. No Rio, o do hotel Quitandinha, em Petrópolis, que está muito bem preservado até hoje; no interior de São Paulo, em Águas de São Pedro, há o Grande Hotel Senac, que apresenta fotos de jogadores, roletas e carteado no restaurante, onde ficava o salão de jogos.

Uma parte desta era glamurosa pode voltar no que depender da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que decidiu – por 14 votos a 12 – encaminhar uma proposta de legalização do jogo ao plenário. Agora, é preciso esperar o projeto (já aprovado pela Câmara) ser incluído na pauta e votado pelos senadores. Os defensores dessa proposta acreditam que o reconhecimento legal dos cassinos (além dos bingos e do jogo do bicho) vá trazer uma receita de R$ 20 bilhões a R$ 40 bilhões por ano, além de gerar 400.000 empregos diretos e indiretos.

Há duas explicações para o fim do jogo legal no Brasil.

Uma seria a pressão exercida pela primeira-dama de Eurico Gaspar Dutra, Carmela (mais conhecida por Dona Santinha), que teria mandado o presidente acabar com os cassinos. Outra é a de que seria uma medida para fustigar Benjamin Vargas (“Bejo”, irmão de Getúlio), que seria sócio oculto de Joaquim Rolla, dono de várias casas no Rio de Janeiro. Como “Bejo” era uma figura grosseira e execrada por políticos, militares e pela elite carioca, essa versão também foi aceita por alguns historiadores.

De qualquer forma, a redação do decreto-lei de número 9.215 dá pistas sobre as razões pelas quais a jogatina foi proibida – e esse caminho vai pela trilha religiosa e da moral. Vejam só a lista de motivos elencada pelo então presidente Dutra: “Considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal; considerando que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração e jogos de azar; considerando que, das exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes…”.

Não é à toa que a votação da CCJ foi acompanhada de perto por religiosos como o pastor Silas Malafaia. “Quem vai controlar a jogatina no Brasil? Todo mundo sabe que é o principal fator para lavagem de dinheiro do crime organizado, narcotráfico, corrupção. A arrecadação tributária é menor do que o dano social (…) A jogatina é antiga no domínio do ilegal”, disse. O pastor ainda levantou que várias entidades religiosas de diversos matizes também são contrárias ao projeto.

Entende-se as questões morais que cercam o tema, especialmente no tocante ao aspecto viciante dessa modalidade de lazer. Por outro lado, é preciso lembrar que já existem portas abertas aos jogadores compulsivos, totalmente legais, como os sites de apostas que tomaram conta da internet brasileira, onipresentes nas páginas mais acessadas do país. Sem falar em casas clandestinas de bingo, que operam descaradamente sem medo de represálias. Ou ainda das bancas da loteria animal. Portanto, aqueles que não conseguem se controlar diante de um jogo de azar já possuem opções para exercer o vício.

Diante disso, há uma certa curiosidade sobre como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vá agir caso o Senado aprove o projeto. Afinal, foi Lula quem fechou os bingos no Brasil após o caso Waldomiro Diniz, o primeiro escândalo de seu governo, revelado pela revista Época, que era dirigida por mim naquele momento. Dentro desse contexto, ele esquecerá o passado e ouvirá o ministro Fernando Haddad, que aceitaria de bom grado alguns bilhões a mais na conta da arrecadação federal?

Por enquanto, este jogo está aberto. Façam suas apostas.

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