O Brasil, desde os tempos de hiperinflação, vive em ritmo frenético – mesmo que os motivos de ontem sejam diferentes dos de hoje. Antes, tínhamos de proteger o capital da corrosão inflacionária. E, neste cenário, 24 horas poderiam ser uma eternidade. Hoje, temos de estar atentos o tempo todo por conta de uma conjuntura incerta e um cotidiano político que gera incertezas e solavancos.
Com isso, vivemos sempre amarrados no curto prazo. Planejar o futuro é algo que se torna mais difícil no Brasil, dada a imprevisibilidade que reina por aqui há muito tempo.
Enquanto não temos um panorama estável e previsível, temos que ser pragmáticos. Nos agarrar às coisas boas em detrimento daquilo que é ruim. Na prática, os empresários já fazem isso no dia a dia (quem é empresário toma diariamente decisões movidas pelo pragmatismo – e não pelo idealismo).
Mas o pragmatismo nos ajuda somente nas decisões de curto prazo. Para olhar de fato o futuro, precisamos resgatar nossos valores mais preciosos e nossas melhores intenções. Sem egoísmo – pois esse futuro precisa de sementes que serão plantadas por nós. Mas seus frutos serão colhidos somente por nossos filhos e netos.
Neste Brasil moldado pelo idealismo, precisamos de pessoas que estão comprometidas com o amanhã, com realizações que mostram capacidade de consertar erros, multiplicar os acertos e se comprometer com o legado que nossa geração vai deixar para os mais jovens.
Não são muitos os que estão dispostos a fazer um sacrifício pelo país ou pelas próximas gerações. Quase todos estão focados nos resultados imediatos e preocupados em resolver os problemas que surgem a todo o instante. Um pragmático em tempo integral, porém, pode ficar atolado no presente. Isso significa não exercer seu potencial de crescimento (pessoal ou profissional) e não contribuir para a sociedade onde vive.
Temos, porém, exemplos de pessoas que conseguiram separar algum espaço na agenda para discutir soluções para os desafios de nosso país. Gente que instituiu o idealismo como parte de suas vidas e dedica boa parte de sua jornada a encontrar um país melhor para todos. Mas esses indivíduos têm pelo menos uma de duas características: ou têm tempo ou dinheiro sobrando (às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo).
Outro traço pode ser percebido entre esses idealistas: eles sempre se preocuparam com o futuro, tanto o próprio como o de sua nação. Essa preocupação é consequência de uma inquietação intelectual, pois são pessoas que rompem a barreira do presente para imaginar cenários e soluções. Isso, na maioria dos casos, leva à expansão dos horizontes materiais ou imateriais.
O fato é que o presente pode determinar o futuro. O que deixamos de fazer agora terá efeitos fortíssimos daqui a algum tempo — como, por exemplo, não tomar medidas necessárias e postergá-las. Os efeitos das procrastinações serão sentidos por todos. Mas o idealismo de nada adiantará se sua visão do presente for distorcida. “Veja a realidade como ela é, não como você gostaria que fosse”, disse Jack Welch, o CEO que impulsionou a General Electric nos anos 1980 e 1990, tirando a corporação dos mercados em que não tinha uma participação expressiva. Ao se concentrar apenas naquilo que fazia melhor, a GE iniciou um ciclo de expansão nunca antes visto em sua história.
Temos que abrir espaço em nossa agenda para pensar no amanhã. No nosso futuro como indivíduos, mas também como profissionais e cidadãos. Precisamos gastar algum tempo, agora, para imaginar o que desejamos para nosso país. Vamos deixar de lado, por enquanto, o que não queremos – e nos concentrar naquilo que julgamos ser o melhor. Pensar em ideais. E depois adaptar esses parâmetros à realidade, à nossa capacidade de executá-los.
Não importa como. Temos de fazer isso agora. Caso contrário, viveremos sempre no presente e seremos guiados pelas circunstâncias, sempre conduzidos por alguém – que não necessariamente imaginará um futuro parecido com aquele que temos em mente.