“Projeto Adam” está em cartaz na Netflix e não é um filme “cabeça”. Pelo contrário. É uma ficção científica com toques de aventura, estrelado por Ryan Reynolds. Ainda por cima, usa a viagem no tempo como truque para criar o enredo (não é à toa, portanto, que “O Exterminador do Futuro” e “De Volta para o Futuro”, duas películas clássicas do gênero, sejam citadas pelos personagens principais).
O enredo é simples: Adam Reed é um piloto que vive em 2050 volta no tempo para procurar sua namorada, que foi executar uma missão em 2018 e desapareceu. Mas ele erra os controles e vai parar em 2022. Neste ano, pede a ajuda de si mesmo, só que com 12 anos.
O filme é divertido, mas o que nos faz pensar é: o que diríamos para aquela pessoa que fomos aos doze anos de idade se encontrássemos com nossa versão pré-adolescente?
Fiquei matutando sobre isso vários dias.
Cheguei à conclusão de que não teria muito o que falar para o Aluizio de doze anos. Hoje, percebo que muito daquilo que sou deve-se à minha profissão, que escolhi seguir aos dezesseis anos de idade.
Tenho algumas características que já deviam estar em estado potencial em minha pré-adolescência: curiosidade, apreço à cultura, pragmatismo, gosto pela escrita, resiliência e persistência. Todos esses traços de personalidade podem ter sido adquiridos ao longo da vida ou estão gravados em DNA. Mas o fato é que a profissão de jornalista desenvolveu e lapidou cada uma desses aspectos presentes em minha pessoa.
Decidi enveredar pelo jornalismo aos 16 anos. Portanto, a minha versão de 12 anos ainda não saberia que profissão seguir e poderia não entender a razão pela qual eu sou assim.
Mas, finalmente, percebo que talvez eu pudesse falar sobre como eu me sinto a essa altura do campeonato.
Me sinto feliz e realizado. Em compensação, ainda não estou satisfeito comigo mesmo. Em constante evolução, sou alguém incompleto. Um livro com várias páginas em branco. Com fome de vida e de absorver o que é novo. Com disposição de seguir meu próprio caminho e tentar fazer algum tipo de diferença no mundo, nem que seja uma semente para ser desfrutada apenas por meus filhos e netos.
Talvez minha versão de doze anos não se interesse por isso, pois tem uma vida inteira pela frente. Mas, com certeza, ficará aliviado em perceber que ainda há bastante cabelo em minha cabeça – uma preocupação constante para quem possui um pai careca como eu.
Eu diria para esse garoto de doze anos para fazer algo diferente em seu futuro? Não. Isso poderia mudar meu presente. E tudo está do jeito que eu sonhei durante muito tempo. Mas ainda pode melhorar, se eu investir em uma vida mais leve e procurar lidar com as tensões do dia a dia de um jeito mais eficaz.
Talvez, por isso, eu não diga nada a não ser um lacônico “vai dar tudo certo” para aquele garotinho de cabelo comprido e franja na testa. “Ou melhor: você vai enfrentar muitos perrengues; mas você vai superá-los, um a um”. Não, não, não. Melhor que tudo isso é repetir uma frase do filósofo Ralph Waldo Emerson: “Ser você mesmo em um mundo que tenta constantemente transformá-lo em outra pessoa é uma das maiores conquistas de um ser humano”.
“Portanto”, eu completaria,”seja você mesmo. Sempre”.
Uma resposta
Valeu meu dia.